CCPY
Foto:
Nonato Sousa
Situação
na reserva indígena foi narrada pelos
funcionários por radiofonia
A falta
de pagamento das horas de vôo da empresa Roraima Táxi Aéreo,
que atua na terra indígena Yanomami, está deixando os 30 profissionais
que estão a mais de um mês dentro da área em situação
complicada. Começa a faltar comida para os funcionários e medicamentos
para os índios, como penicilina procaína e dipirona.
Através
da radiofonia, a Folha conversou na tarde de ontem com funcionários que
atuam em vários pólos-base. Pela situação vivida,
eles relataram não agüentar mais passarem por esse problema, que
vem se arrastando por três meses. “Ficamos trabalhando sem data
certa para sair”, falou um deles.
O grupo
é composto por enfermeiros, técnicos em enfermagem, técnicos
em laboratório, dentistas e auxiliares. Segundo relato, existem casos
de pessoas com mais de 45 dias trabalhando nas áreas. Há casos
de malária entre os funcionários. Eles se dizem revoltados com
o descaso para com eles e os indígenas.
Pela regra,
a cada 30 dias devem ser trocadas as equipes. Sábado passado, 5, venceu
o prazo desses profissionais voltarem, para outra equipe entrar na reserva.
Também aguardam normalização dos vôos aproximadamente
40 indígenas, que estão de alta na Casa do Índio, em Boa
Vista, e precisam voltar para suas aldeias.
Os vôos
transportam os profissionais de saúde e os pacientes indígenas,
além de abastecer com medicamentos, insumos e alimentos os 20 pólos-base
– atendem uma população de 8 mil indígenas. O avião
é o único meio de transporte para chegar à área
yanomami.
Sem condições
de trabalho, esses profissionais enfrentam outro problema: ameaças de
agressões. “O indígena não quer saber se tem comida
ou não. Ele quer saber de atendimento. Agora, como vamos atender, se
não temos mais condições para isso?”, questionou
uma das pessoas na radiofonia, afirmando já ter sido ameaçada
de ser flechada.
Mesmo vivendo
problema delicado, eles disseram que, chegando na cidade, não tem como
abandonar o trabalho. “Precisamos sobreviver. Temos que nos submeter a
essa situação, porque temos família para sustentar, contas
a pagar e precisamos desse salário”, desabafaram.
Por se
tratar de um serviço especial, os profissionais disseram não entender
como pôde se chegar a essa situação, já que o Governo
Federal destina milhões de reais para execução dos serviços.
Eles acreditam que enquanto houver “dedo político” apontando
os rumos dos órgãos, nada vai funcionar.(Rebeca Lopes)