CCPY
Foto:
Jader Souza
Manifestação
começou por volta das 11 horas quando
Ramiro esteve no local
Acusações
e protestos. Foi assim a recepção do novo coordenador-substituto
da Funasa (Fundação Nacional de Saúde), Ramiro Teixeira.
Os cerca de 80 índios estão irredutíveis quanto à
nomeação dele. Eles prometem deixar a sede do órgão
somente depois que a presidência em Brasília revogar a portaria
de nomeação do servidor. Os indígenas ocupam a repartição
pública há cinco dias. Foi destituído do cargo de coordenador-substituto,
o servidor Aurean Leal.
De início, os protestos se resumiam à falta de pagamento das Organizações
Não-Governamentais (ONGs) que prestam assistência à saúde
indígena. A partir de agora, com a nomeação de Teixeira,
as reclamações dos indígenas são quanto ao retorno
do coordenador. Agentes da Polícia Federal estiveram no local, à
paisana, acompanhando o processo.
Durante quase uma hora, os índios protestaram a presença de Teixeira
na sede do órgão. A reunião com os indígenas aconteceu
na parte externa do prédio pelo fato do novo coordenador ter sido impedido
de entrar na sede da Funasa. Os demais servidores ficaram do outro lado da rua
aguardando a autorização para retomar às atividades.
O líder indígena Peri Yanomami disse não aceitar a volta
de Teixeira por entender que ele passou pela coordenação do órgão
e nada fez pelos índios da etnia yanomami. “Não acreditamos
mais nele. Quando ele foi coordenador pela primeira vez, sentamos e fizemos
vários planos e projetos, dentre eles construção de postos,
controle de endemias e saneamento básico e isso não foi cumprido”,
afirmou.
Todos os índios presentes se manifestaram contrários quanto à
nomeação de Teixeira, embora seja para um cargo interino até
que a presidência do órgão em Brasília indique um
novo coordenador regional.
Na manhã de ontem, vários indígenas estavam reunidos no
auditório da Funasa e na Casa do Índio, onde Teixeira esteve no
primeiro momento e enfrentou o início do protesto. A imprensa não
teve acesso a esses dois encontros.
Em meio às manifestações que foram traduzidas em português,
os índios yanomami acusaram o novo coordenador-substituto de ter desviado
verba de projetos implantados pela Funasa. As acusações foram
fortes e pontuais. As denúncias contaram com o apoio de funcionários
contratados pelas ONGs que prestam assistência na área yanomami.
DEFESA - Ramiro Teixeira se defendeu das acusações
feitas pelos índios yanomami. Conforme ele, durante o período
de um ano que passou na administração da Funasa, desenvolveu um
bom trabalho e que não desviou nenhum dinheiro para fins pessoais.
Segundo ele, a administração da Funasa é centralizada e
tudo depende de Brasília. “Não estou aqui para justificar
a minha nomeação. Sou servidor do Ministério da Saúde
e fui designado a assumir a coordenação regional interinamente”,
enfatizou, ao acrescentar que tem 30 anos de funcionalismo público e
que durante esse período que foi administrador público, teve suas
contas aprovadas pelo Tribunal de Contas, o que descarta a possibilidade de
desvio de verba.
“Tenho uma história administrativa nesse Estado e não admito
ser atacado dessa forma. Durante minha administração fiz muita
coisa e queria ter feito muito mais. O que eu espero é respeito por parte
dos índios”, disse Teixeira.
Índios ligados ao CIR (Conselho Indígena de Roraima) querem a
volta do ex-coordenador, Ipojucan Carneiro. Mais uma vez eles vão reiterar
o pedido junto ao Ministério da Saúde e presidência da Funasa.
Durante a reunião com o coordenador-substituto, Ramiro Teixeira, os índios
deixaram clara a intenção de ter uma pessoa da confiança
deles à frente do órgão federal. Eles não aceitam
a indicação de Teixeira por entender que está voltada à
questão política e não ao interesse coletivo dos índios.
MAIS PROTESTOS - Desde ontem, 40 índios das etnias macuxi,
wapixana, taurepang, wai-wai e ingaricó estão engrossando os protestos
em frente à sede da Funasa. Eles também não concordam com
a nomeação de Ramiro Teixeira para a coordenação
interina do órgão.
“Queremos uma definição de Brasília. Não pretendemos
conversar com o Ramiro”, disse o coordenador do convênio de Saúde
do CIR, Clóvis Androso, ao ressaltar que os índios do Distrito
Sanitário Leste estão sofrendo com o atraso no repasse de verba
para pagamento da conveniada [CIR] que presta serviços de saúde
na área indígena.
Conforme ele, está atrasada a segunda parcela do convênio no valor
de R$ 3 milhões e a Funasa anunciou pagar somente R$ 700 mil. “Esse
valor não dá para pagar os encargos dos salários dos profissionais.
Queremos que essa situação seja resolvida”, disse.