CCPY
Foto:
Jader Souza
Audiência ocorreu
na Justiça Federal, por sugestão
da Advocacia Geral da União
Os
índios yanomami, que ocupavam a sede da Funasa (Fundação
Nacional de Saúde) há uma semana, deixaram o local atendendo a
um acordo firmado durante audiência de conciliação e justificação
ocorrida na manhã de ontem, na 1ª Vara da Justiça Federal.
Mediou as negociações o juiz federal Rodrigo Pinheiro do Nascimento.
Esse encontro foi proposto pela Advocacia Geral da União (AGU). Estiveram
presentes nas negociações representantes do Ministério
Público Federal (MPF) e lideranças indígenas. Como ouvintes,
participaram servidores da Funasa e Funai (Fundação Nacional do
Índio). O acordo prevê a desocupação do órgão
por 10 dias.
Durante esse período proposto pelo juiz federal Rodrigo Pinheiro, a comissão
composta por índios, representantes da Funasa, Funai, AGU e MPF irá
acompanhar as negociações de modo que as reivindicações
sejam atendidas. Caso a presidência do órgão em Brasília
não normalizar a situação, os índios voltarão
a ocupar a sede em Boa Vista. As reivindicações sendo atendidas,
os indígenas retornarão às malocas.
Recentemente, índios das etnias macuxi, ingarikó, wai-wai e wapichana
engrossaram o movimento e permaneceram na sede da Funasa. Na manhã de
ontem, os servidores do órgão voltaram a trabalhar normalmente,
porém, com receio de serem retirados à força das salas.
A Advocacia Geral da União reconheceu a legitimidade das manifestações
das comunidades durante a audiência de conciliação. Em contrapartida,
argumentou no pedido de reintegração de posse que o fechamento
da Funasa ocasionaria mais demora no processo de liberação de
verba para pagamento das conveniadas e volta dos serviços de saúde.
Em alguns momentos da audiência, os índios se manifestaram contrários
quanto à desocupação total do prédio. Eles desobstruiriam
a entrada principal, mas permanecerão no auditório trabalhando
na comissão que irá acompanhar as negociações.
Durante a apresentação da defesa, o líder indígena
Peri Yanomami disse que é de responsabilidade total da Funasa prestar
assistência médica aos índios. Contestou os valores cobrados
pelas empresas de táxi aéreo e pediu a normalização
dos serviços, uma vez que já foi registrado uma morte de criança
em virtude da ausência de profissionais de saúde. “Não
estamos apenas preocupados com o repasse de verbas paras as instituições
conveniadas da Funasa, mas com a normalização da assistência
nas aldeias”, enfatizou.
Em momento algum, o acordo judicial menciona a possibilidade de interferência
na nomeação de Ramiro Teixeira na coordenação interina
da Funasa. Ontem ele voltou às atividades sem sofrer qualquer tipo de
represália.
Ele entende que a Funasa não é um departamento de saúde
da Funai. Disse que além das ações de saúde aos
povos indígenas, o órgão é responsável por
todas as obras de saneamento básico no Estado. “Essas obras estão
paradas por causa desse impasse enfrentado com os índios”, disse,
ao falar da boa vontade da Justiça em resolver o problema. (Leandro Freitas)