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Yanomami
propõem reforma do modelo de saúde e explicam recentes manifestações
Em
um recente manifesto avaliando o atual modelo de saúde indígena
no contexto da crise do Distrito Sanitário (DSY) que os atende (ver
Boletins Pró-Yanomami 52,
53,
54,
60,
70
e 72),
um grupo de líderes e professores yanomami acabou de propor ações
concretas para uma reforma efetiva da estrutura de atendimento na área
indígena (ver carta abaixo). Longe de limitar-se
a críticas e mera exigência de verbas, o texto, elaborado por integrantes
da Hutukara Associação Yanomami e por um grupo de professores
indígenas que participaram da recente ocupação da sede
da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) em Boa Vista (ver
Boletim Pró-Yanomami 72),
destaca-se pela forma direta e pragmática com a qual são propostas
mudanças, tomando como referência o sistema de trabalho e os resultados
obtidos pela organização Urihi – Saúde Yanomami,
que atuou na Terra Indìgena Yanomami entre 2000 e 2004 (ver
Boletins Pró-Yanomami 39
e 40):
“Quando a Urihi trabalhava conosco, eles ficavam muitos dias em nossas
comunidades, observando se adoecíamos, eles acompanhavam os microscopistas
yanomami para colher lâminas e saber se havia malária; se houvesse,
eles tratavam logo. (...) É por isso que nós queremos que a Funasa
faça a mesma coisa, ensinando seus funcionários a trabalhar bem
em todas as regiões, ir até os Yanomami onde quer que eles estejam,
ouvi-los e respeitá-los”.
Chama a atenção também a análise, pelos Yanomami,
do atual sistema de repasse de verbas e convênio com a Fundação
Universidade de Brasília (FUB) que geraria desperdício de recursos
e, conseqüentemente, prejudicaria o atendimento e o bom gerenciamento dos
recursos: “Com um (FUB) pagando o pessoal de saúde e o outro (Funasa)
pagando as horas de vôo fica muito confuso e prejudica o atendimento à
saúde. Por controlarem mal as horas de vôo é que o dinheiro
acaba logo. Por vocês fazerem assim é que o dinheiro acaba logo”.
Apresentamos
a seguir a íntegra do documento.
Comunicado
às autoridades brasileiras
Por
que fizemos manifestação
Durante
o VI Curso de Formação, nós, professores yanomami, convidados
pelos conselheiros yanomami do DSY, participamos da Reunião Extraordinária
do Conselho porque a saúde dos Yanomami está correndo um grande
perigo. Na nossa terra a malária voltou com toda a força, o que
nos deixa muito preocupados e, por isso, estamos tão indignados.
Nas nossas comunidades, a malária voltou a nos atormentar, aumentando
muito. Entre agosto de 2001 e agosto de 2004, a malária estava controlada,
mas a partir de agosto de 2005 ela aumentou muito, chegando a mais de mil casos.
Nós fechamos a Funasa porque não queremos voltar a morrer como
antes. E estamos muito preocupados porque a saúde não está
bem em nossas comunidades e, por isso, protestamos, para mostrar às pessoas
da Funasa que não estamos satisfeitos com a qualidade do serviço
de saúde. Queremos continuar sempre com saúde, por isso nos manifestamos
na Funasa. Depois de pensar muito sobre como realmente queremos os serviços
de saúde, decidimos escrever este documento para que vocês, autoridades,
saibam que nós não queremos ver nosso povo morrer de novo, como
antes.
Assistência
permanente da saúde
É
assim que nós queremos a assistência, com os profissionais de saúde
ficando mais tempo em nossas comunidades. Só assim eles podem perceber
quando alguém começa a ficar doente. Quando a Urihi trabalhava
conosco, eles ficavam muitos dias em nossas comunidades, observando se adoecíamos,
eles acompanhavam os microscopistas yanomami para colher lâminas e saber
se havia malária; se houvesse, eles tratavam logo. Também iam
às comunidades mais distantes para cuidar da saúde dos Yanomami.
Quando algum Yanomami ia falar com eles, mesmo sem saber a língua yanomami,
eles se esforçavam para entender o que ele tinha. A Urihi ensinava aos
seus funcionários a trabalhar assim. É por isso que nós
queremos que a Funasa faça a mesma coisa, ensinando seus funcionários
a trabalhar bem em todas as regiões, ir até os Yanomami onde quer
que eles estejam, ouvi-los e respeitá-los.
A isso nós chamamos de assistência permanente e é assim
que queremos que seja tratada a nossa saúde.
Mas vocês da Funasa não fazem assim e isso não é
bom para nós. Da maneira como vocês dividem o trabalho, não
funciona. Com um (Fub) pagando o pessoal de saúde e o outro (Funasa)
pagando as horas de vôo fica muito confuso e prejudica o atendimento à
saúde. Por controlarem mal as horas de vôo é que o dinheiro
acaba logo. Por vocês fazerem assim é que o dinheiro acaba logo.
Por isso também não chega remédio na nossa terra e vocês
já fecharam os postos de saúde no Homoxi e no Arathau. Até
os funcionários de saúde que trabalham nas nossas comunidades
deixaram de receber comida porque não mandam mais os aviões; vocês
estão desperdiçando dinheiro.
Nós fizemos a manifestação porque queremos recuperar a
qualidade dos serviços de saúde na nossa terra e o respeito devido
aos Yanomami.
Assinam:
Associação Hutukara Yanomami
Presidente: Davi Kopenawa Yanomami
Vice-presidente: Geraldo Kuesi theri Yanomami, microscopista
Tesoureiro: Dário Vitório Xiriana, professor
Primeiro secretário: Mateus Sanuma
Segundo secretário: Emílio Sisipino, professor
Professores
Anselmo Xiropino Yanomami
Rezende Maxiba Cardoso
Manisi Marinaldo Sanuma
Enio Mayanawa Yanomami
Genivaldo Krepuna Yanomami
Ricardo Porari Yanomami
Lourenço Yoina Yanomami
Alípio Waarinawa Yanomami
Raimundo Õiri Yanomami
Magno Junior Yanomami