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Notícias CCPY Urgente
Data: 28 - Dezembro - 2005
Titulo: Curso para formação de professores yanomami ajuda a conciliar teoria e prática
Fonte:
CCPY – Comissão Pró-Yanomami, Boletim nº 74
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Curso
para formação de professores yanomami ajuda a conciliar teoria
e prática
Terminou
no dia 11 de dezembro de 2005 o sexto curso de formação
para o magistério dos professores yanomami promovida pela CCPY.
Os trabalhos, que totalizaram 240 horas de aula, foram norteados pelo
tema Saúde, e compreenderam as disciplinas de Pedagogia, Antropologia,
Ciências Naturais, Direitos Indígenas, Artes e Pesquisa Etnográfica.
Além dos 30 professores yanomami, oriundos das regiões de
Auaris, Alto Catrimani, Demini, Homoxi, Kayanau, Papiu, Parawau e Toototobi,
lideranças dessas regiões também estiveram presentes
e participaram ativamente de alguns momentos do curso.
Houve alterações
na programação do curso devido ao envolvimento dos professores
nas manifestações contra a deterioração do
sistema de saúde indígena que ocorreram na sede da Fundação
Nacional de Saúde (Funasa) em Boa Vista, Roraima, quando foram
chamados a atuar pelos yanomami que participavam de reunião do
Conselho Distrital (ver
Comunicado Pró-Yanomami de 24.11.05 e
Boletins Pró-Yanomami 72
e 73).
Entretanto, isso não chegou a prejudicar o andamento do curso,
graças ao extraordinário empenho e interesse demonstrados
pelos professores yanomami, que transferiram para o período noturno
as atividades previstas. “Manter o curso e as manifestações
na Funasa exigiu de todos os professores e de toda a equipe de educação
um grande empenho e muita dedicação para manter-se em atividade
mais de 12 horas diárias”, declarou Lídia Montanha
de Castro, coordenadora do Programa de Educação Intercultural
(PEI) da CCPY.
A conjunção
de teoria e atividades práticas relacionadas à problemática
da saúde foi um grande ganho para os participantes do curso, segundo
o professor Dário Vitório Yanomami, também tesoureiro
da Hutukara Associação Yanomami: “No curso e na luta,
o que ficou ainda mais claro foi sobre os direitos indígenas no
Brasil. Nós já sabíamos, mas agora ficou mais claro
que o atendimento da saúde não é só um favor
que os brancos fazem para a gente. É obrigação da
Funasa, do Governo. O dinheiro não é só do Governo,
é do povo brasileiro, por isso todos nós falamos. Nós
não pedimos à toa, é nosso direito”.
Dário
Vitório afastou a idéia de incentivos externos à
manifestação: “Nenhum branco faz manipulação
da gente, não. É nosso direito claro, por isso fizemos manifestação.
Não fizemos à toa, é nosso direito para melhorar
nossa saúde, nossa vida. Se a gente não faz isso, o governo
brasileiro não vai entender, não sabe escutar. Por isso,
nós fechamos o departamento da Funasa”. A ação
dos professores e conselheiros indígenas, apesar de coincidir com
a abordagem do tema saúde no curso, foi apenas uma entre várias
outras manifestações de descontentamento que ocorrem entre
os Yanomami desde 2004 (ver Boletins Pró-Yanomami
52,
53,
54,
60,
70,
72
e 73):
“Não é só agora que ficamos bravos com o atendimento
à saúde, desde que a Funasa voltou e tomou conta, nós
falamos, ficamos chateados porque a gente já sabia. A Funasa não
tinha trabalhado bem antes, morria muita gente, apesar de ter muito dinheiro.
A gente sabia que ia acontecer de novo”.
Ciente dessa
situação, Joênia Batista Carvalho, Wapixana, primeira
advogada indígena do país, agraciada com o Prêmio
Reebook 2004 – Em Defesa dos Direitos Humanos, aproveitou a reunião
do Conselho Distrital Yanomami para conduzir com os professores, durante
o módulo de Direitos Indígenas, um estudo sobre a assistência
a saúde indígena no Brasil. Paralelamente, descreveu brevemente
o panorama histórico sobre o desenvolvimento do Estatuto do Índio
e a necessidade de sua reformulação. Também participou
desse módulo o advogado Ubiratan Souza Maia, do Conselho Indígena
de Roraima (CIR), dedicando-se aos conceitos de Estado Brasileiro, Povo,
Território, Governo, Cidadão, Direito e Dever.
O módulo
de antropologia, disciplina oferecida pela primeira vez na formação
dos professores yanomami com a consultoria dos antropólogos Gustavo
Menezes, da Fundação Nacional do Índio (Funai) e
doutorando da Universidade de Brasília (UnB), e Silvia Guimarães,
recém doutora também pela UnB, foi apontado por Dário
Vitório como o mais interessante: “O curso de antropologia
foi o mais importante para mim, porque quando a gente viajar para outros
lugares, a gente pode entender os costumes deles, como é a cultura
dos outros. Quero saber outros costumes e, quando eu voltar para a minha
comunidade, poderei falar sobre isso. Eu aprendi na antropologia, eu vou
pensar diferente, não é como os brancos pensam. Os brancos
falam que a gente é selvagem, que índio é animal.
Eles falam também de outros povos, eu não quero pensar assim”.
Na semana
dedicada à antropologia, foram estudadas as repercussões
da chegada dos europeus às Américas no pensamento ocidental,
ressaltando-se os argumentos criados para explicar e classificar a diversidade
cultural dos povos autóctones. O trabalho teórico foi associado
a um exercício inicial de pesquisa etnográfica, visando
demonstrar aos professores formas de utilização dos conhecimentos
antropológicos para uma melhor compreensão da realidade
dos não yanomami.
Durante
o módulo de Pedagogia, ministrado por Lídia Montanha de
Castro e pela equipe do PEI, foram discutidos e sistematizados os conteúdos
referentes à construção dos Projetos Político-Pedagógicos
(PPPs) das escolas yanomami, com base em dados obtidos após exaustivos
trabalhos e reuniões junto às comunidades atendidas. Os
professores yanomami também estudaram as bases legais que garantem
educação diferenciada e de qualidade aos povos indígenas.
Na semana
dedicada às Ciências Naturais, o foco recaiu sobre a diversidade
de concepções de saúde, doença e corpo, com
visitas ao laboratório de anatomia do Centro Federal de Educação
Tecnológica de Roraima. Com a assessoria das professoras Eliane
Bastos e Arlene de Oliveira, foi compilada, para posterior publicação,
uma série de materiais, produzidos especialmente para o módulo,
e com textos nas cinco línguas representadas no curso.
Os trabalhos
foram finalizados com uma exposição montada pelos professores,
na qual apresentaram os materiais produzidos durante o curso, tais como
os PPPs e a versão inicial do livro de Ciências Naturais.
A exposição, fruto de atividades complementares sobre arte
e educação dirigidas por Rosângela Duarte, professora
de Arte e Educação da Universidade Federal de Roraima (UFRR)
e coordenadora do programa Arte BR, foi realizada no Museu Integrado de
Roraima e contou com a participação de representantes da
Secretaria Estadual de Educação e das organizações
indígenas Organização das Mulheres Indígenas
de Roraima (OMIR) e Organização dos Professores Indígenas
de Roraima (OPIR).
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Coordenação Editorial: Bruce Albert (Assessor Antropológico CCPY) e Luis Fernando Pereira (Jornalista CCPY)
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