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Janaina
Rocha
Enviada especial
Rio
Quente (GO) - David Kopenawa, do povo Yanomami, se prepara para ser pajé.
"Você estuda para melhorar, não? Eu também faço
isso, para saber mais. Ser mais preparado. Me dedicar ao meu povo. Saber mais
da minha tradição. Para aprender mais e ter mais força
para manter a gente na aldeia".
David
é a liderança yanomami "que anda na cidade" e está
entre os cerca de 15 indígenas de sua etnia que fala português.
"Não é todo yanomami que quer falar português. Ele
quer preservar sua língua. O professor nosso ensina yanomami", afirma
David, um dos participantes da 4ª Conferência Nacional da Saúde
Indígena.
Hoje,
eles são cerca de 12 mil em Roraima e Acre, mas há Yanomamis na
Venezuela. "Nossa terra é boa, tem os rios, tem tudo. Estamos preocupados
agora porque a malária voltou", conta. "Não quero mais
perder yanomamis como antes. Tem esse risco, não morreu ninguém
ainda. A saúde que a Funasa está fazendo paralisou o trabalho
preventivo e sete aldeias têm malária".
David
narra que os principais surtos da malária ocorreram nos anos 70, quando
houve a construção de um trecho da estrada Perimetral Norte (1973
a 1976) em Roraima que "abriu o caminho para a doença". Depois,
segundo ele, se agravou a partir de 1986, quando "Romero Jucá, presidente
da Funai do presidente José Sarney autorizou a entrada de mais de 30
mil garimpeiros".
"Mais
de 4 mil yanomamis morreram de malária, tuberculose, de assassinato.
E depois de muita luta, de denúncia para fora do Brasil, a terra foi
homologada em 1992. A doença ficou, mas depois vieram as organizações,
que por serem não-governamentais, trabalharam na saúde e conseguiram
acabar com a doença".
David
diz que não reivindica dinheiro, mas ações de saúde.
"Você sabe que ela [saúde] não pode parar, atrasar,
errar. E ela está se paralisando há três anos". Em
15 de setembro do ano passado, os yanomamis ocuparam o prédio da Funasa
em Boa Vista, em protesto.
"Nós
conseguimos que as equipes fossem para as aldeias fazer o trabalho. Mas a saúde
não pode ser assim. O branco precisa do instrumento para trabalhar. É
assim que ele trabalha, faz exames com lâminas, usa remédios. O
pajé cura as doenças da floresta. Aprende a fazer isso. Mas não
cura, e já tentamos, a doença que vem da cidade".