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Notícias CCPY Urgente
Data: 30 - Março - 2006
Titulo: Yanomami de Maturacá (AM) pedem respeito e atenção a seus projetos
Fonte:
Boletim Pró-Yanomami Nº 77
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Yanomami
de Maturacá (AM) pedem respeito e atenção a seus projetos
Os
Yanomami da região do Maturacá (AM) rejeitaram a execução
de projetos do Estado que não os incluam ou que ignoram suas demandas
e trabalhos já em andamento. Essa posição foi reafirmada
em reunião convocada pelos diretores da Associação
Yanomami do Rio Cauaburis e Afluentes (AYRCA), realizada no dia 12 de
fevereiro de 2006 na Missão Salesiana, sediada entre as comunidades
do Maturacá e Ariabú, respondendo à visita não
previamente informada de um grupo participante da Operação
Rondon.
Segundo os Yanomami, a ida do grupo apenas foi o catalisador dessa reação,
ensaiada há tempos devido à chegada constante, sem aviso
prévio, de indivíduos com interesses estranhos à
população yanomami local, sejam aqueles com autorizações
de algumas organizações governamentais, sejam os que entram
ilegalmente na terra indígena, como garimpeiros e turistas que
freqüentemente rumam ao Pico da Neblina, localizado na área.
Segundo os Yanomami, a Operação Rondon seria apenas mais
uma das iniciativas do Exército que passariam por cima de suas
opiniões e que dariam origem a novos projetos não desejados
pelas comunidades, como os projetos de mineração e ecoturismo,
como o indevidamente aprovado em novembro de 2005 pela Fundação
de Política Indígena e Indigenista da Amazônia (FEPII).
Em diversas ocasiões foi reafirmada a existência de dois
projetos gerados a partir das próprias demandas dos Yanomami, o
projeto tiëmotima, que inclui oficinas de capacitação
administrativa e de informática, e o de formação
diferenciada em magistério, como declarou Daniel, um dos líderes
da comunidade de Maturacá: “Nós já temos nossos
projetos, não queremos que ninguém atrapalhe. Não
queremos pesquisadores que não expliquem, que passem à toa,
não queremos esse tipo de projeto dos soldados, também não
queremos o Calha Norte. (...) Vocês, que pensam que somos atrasados,
que somos como animais, esqueçam tais palavras. Sabemos fazer nossos
projetos, já os temos”. Armindo Góes, presidente da
AYRCA, reafirmou: “Nós já dissemos que temos nossos
projetos. O presidente (Lula), se quiser nos ajudar, deve apoiar com nossos
projetos que já existem. Presidente, você não deve
ignorar nossos projetos”.
Motivos para tais receios não escassearam: alguns dias antes da
reunião, uma equipe na qual constava a presença do médico
Dráuzio Varella realizara trabalhos de filmagens entre os Yanomami,
sem que suas motivações e aplicações fossem
elucidadas as pessoas filmadas e a sua associação local.
Os Yanomami também lembraram da equipe anterior da Operação
Rondon, que passou pela região em 2005 sem dar esclarecimentos,
além de um outro grupo da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ) que realizou um mapeamento para o desenvolvimento econômico
das comunidades neste mesmo ano. Importante lembrar que o teor do relatório
deste mapeamento só acabou fortalecendo preconceitos contra os
Yanomami da região ao dizer que , que ocorreu entre eles “massacre
cultural” e “esquecimento cultural”, ressaltando que
os jovens yanomami “não têm muito interesse em aprender”
práticas tradicionais, isto a partir de uma noção
de cultura antropologicamente totalmente inadequada.
Estas preconceitos preocupavam os Yanomami que chegaram à conclusão
de que o Exército havia escolhido o Maturacá como única
região indígena desta edição da Operação
Rondon por considerar que lá não viviam mais “índios”
e que os Yanomami haviam se tornado Brancos, como declarou Rogério
Barbosa Lins, vice-presidente da AYRCA e professor yanomami da creche
municipal instalada na comunidade de Maturacá, na escola Padre
Pedro Durante, que atende crianças com idades entre 4 e 5 anos:
“Somos Yanomami, falamos nossa língua, conservamos nossos
costumes como nossos antepassados faziam. Não é porque temos
documentos, usamos roupas e falamos o português que perdemos nossa
identidade”.
A desconfiança em relação aos propósitos do
exército se dá principalmente porque os Yanomami consideram
que não foram cumpridas suas promessas iniciais, feitas durante
a construção das instalações do 5º Pelotão
de Fronteira, concluída em 1989, entre elas a implantação
de escolas, de hospital e funcionamento da micro usina hidrelétrica,
como acrescentou Rogério Barbosa: “Vocês do Exército
nos diziam que ajudariam com tais projetos, mas nos enganaram, não
queremos mais projetos deste tipo. Queremos apenas ver florescer os projetos
que nós mesmos fizemos. Não queremos mais projetos que simplesmente
chegam aqui, pegam informações e vão embora, sem
dar retorno”.
Os Yanomami de Maturacá chegaram à conclusão de que,
se o Governo ou suas instituições, como o Exército,
desejam realizar algum tipo de trabalho na região, ele deve responder
mais diretamente às demandas reais das comunidades locais, tais
como: envio de equipes médicas para ajudar na assistência
de saúde; solução nos problemas de repasse de verbas
da Funasa à conveniada IBDS; envio de equipamentos e material para
atendimento médico e odontológico; reforma ou reconstrução
da ponte que atravessa o rio Maturacá, ligando a comunidade do
Maturacá à do Ariabú; construção de
um espaço para os cursos de formação de professores;
reforma da micro usina hidroelétrica ou envio de um gerador para
as atividades escolares; incentivo a projetos de criação
de animais e peixes (já que, em função do crescimento
populacional e sedentarização, as atividades de caça
e de pesca só podem ser feitas em locais mais distantes, na região
do alto rio Ariabú); e programa de recolhimento e reciclagem do
lixo gerado no próprio Pelotão de Fronteira, espalhado ao
ar livre em caminhos transversais à pista de pouso, utilizados
pelos Yanomami para irem às suas roças.
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Coordenação Editorial: Bruce Albert (Assessor Antropológico CCPY) e Luis Fernando Pereira (Jornalista CCPY)
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