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Notícias CCPY Urgente
Data: 18 - Julho - 2006
Titulo: Novo grupo de garimpeiros capturado pelos Yanomami
Fonte:
Boletim Pró-Yanomami Nº 80
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Novo
grupo de garimpeiros capturado pelos Yanomami
Diante da
falta de atuação das instituições do Estado
para garantir efetivamente seus direitos territoriais constitucionais,
os Yanomami têm demonstrado alta capacidade de vigilância
e ação na proteção de suas terras. Um novo
grupo de garimpeiros atuando ilegalmente na terra indígena foi
capturado pelos Yanomami na região do Haxiú, alto Parima,
Roraima, no dia 21 de abril. Organizados num grupo com mais de cinqüenta
guerreiros e professores, os Yanomami interrogaram os quatro garimpeiros,
levantando informações pertinentes, como nomes, equipamentos
transportados, locais de procedência (Ver
documentos abaixo), que foram repassadas à Fundação
Nacional do Índio (Funai) e Polícia Federal.
No diálogo
que se seguiu após a captura dos invasores, os Yanomami, hoje muitas
vezes mas informados do que seus cativos, evocaram para eles os sofrimentos
causados ao seu povo pelo garimpo na década anterior e as leis
que garantem a integridade do seu território: “Por que vocês
garimpeiros vieram à nossa floresta? Não venham para cá.
Cuidado, é proibido vir trabalhar aqui em nossa terra. Hoje nós
estamos mais informados e realmente atentos. Nós todos temos leis,
temos a Constituição federal, e por isso vocês devem
respeitar mesmo a nossa terra. Nós, professores yanomami, estudamos
a lei, assim como fizeram nossos conselheiros e agentes de saúde
(...) Vocês pensam que somos ignorantes? Vocês pensam que
nossa floresta é inesgotável ?”.
Em novembro
de 2005, os Yanomami do Haxiu já haviam capturado, de forma similar,
três garimpeiros (Ver
Boletim 73) e, recentemente, outros quatorze garimpeiros foram retirados
pela Funai e Polícia federal da terra indígena, mais especificamente
das regiões de Catrimani e Arathau, esta última próxima
ao pólo-base de Surucucu, onde está instalado um Pelotão
de Fronteira do Exército (Ver
Boletim 78).
Estes acontecimentos
mostram que se torna urgente a tomada de providências abrangentes
e efetivas pelos órgãos competentes em relação
à presença ilegal de garimpeiros na Terra Indígena
Yanomami. Lembramos aqui as constantes denúncias sobre o crescimento
continuo do fluxo de garimpeiros rumo à Terra Indígena Yanomami
desde o ano passado (Ver Boletins 34,
43,
45,
47,
63,
65,
72
e 73).
Até
o presente, as poucas vezes em que foram disponibilizadas verbas para
a realização de operações de desintrusão
da área, estas falharam pela sua inadequação (Ver
Boletim 78) ou pela falta de vontade política. Apesar do Sistema
de Proteção da Amazônia (Sipam) realizar o monitoramento
do espaço aéreo da região, repassando as informações
de vôos clandestinos para a Polícia Federal, este órgão
até hoje não tomou medidas cabíveis contra os proprietários
dos aviões, que pousam e decolam à vontade para transportar
e abastecer os garimpeiros a partir de mais de 50 pistas ilegais existentes
em Roraima (Ver
Boletim 65).
Abandonar
por mas tempo aos Yanomami a responsabilidade do controle da região
só poderá deixar campo aberto a uma violência que
os jovens professores e anciãos indígenas procuram evitar
a tudo custo, como expresso em trecho dos documentos abaixo: “Fizemos
os garimpeiros se sentarem no chão, aí outro visitante yanomami
chegou. Ele viu os garimpeiros, pegou um facão e quase cortou a
cabeça de um garimpeiro. Por evitar isso nós fizemos um
documento”.
Documento
1
Haxiú
30/04/2006
Palavras
escritas sobre os garimpeiros:
No dia 21
de abril nós prendemos os garimpeiros. Havia quatro deles: Antônio
Rebuça, João Orifeiro, José Orrândo e Amazonas
Berreiro. Eram essas as “ariranhas” [forma como os Yanomami
chamam os garimpeiros, por chafurdarem na lama], por isso agimos da seguinte
forma: nos pintamos eles de urucum e pegamos flechas, facas, machados,
enchadecas, quatro espingardas. Nós éramos 52 Yanomami.
Quando os garimpeiros chegaram à maloca eles disseram: “Yanomami,
não nos façam nada, somos da Venezuela”. Foi o que
eles disseram. Em seguida, Márcio falou para os velhos: “Eles
nos enganam, eles são os destruidores das águas. Por isso
vamos nos pintar com carvão, nós queremos surrá-los”.
Assim disse Márcio Hesina mas alguns dos anciãos nos proibiram:
“Não, vocês não baterão neles, o caminho
se tornará sujo”.
Quando os
velhos disseram isso, nós falamos em amarrar os garimpeiros no
posto, tencionávamos em levá-los embora. Quando nós
os assustamos, os garimpeiros quase fugiram, mas não permitimos
que o fizessem. Márcio os colocou sentados e dirigiu-se a eles:
“Por que vocês garimpeiros vieram à nossa floresta?
Não venham para cá. Cuidado, é proibido vir trabalhar
aqui dentro da nossa terra. Hoje nós estamos mais informados e
realmente atentos. Nós temos todos as leis e a Constituição
federal, e por isso vocês devem respeitar mesmo a nossa terra. Nós,
professores yanomami, estudamos lei, assim como fizeram nossos conselheiros
e agentes de saúde. No Haxiu tornamo-nos muito poucos com as epidemias.
Vocês garimpeiros estragaram toda a floresta, rio, os peixes, vocês
já sujaram tudo.
Também
nós, Yanomami, já morremos muito com a malária, quase
nos acabamos. Por isso estamos muito tristes, não queremos mais
vocês mesmo, vocês não podem trabalhar. Se vocês
vierem trabalhar de novo, vamos matá-los. Na primeira vez, vocês
trabalharam em outra aldeia e por isso não matamos vocês,
agora nós mataremos. Vocês pensam que somos ignorantes? Vocês
pensam que nossa floresta é inesgotável?”. Aí
depois nós raspamos o cabelo deles, os velhos falaram assim: “Garimpeiros,
não fujam. Cuidado, quebramos suas cabeças, queremos pintar
suas cabeças com urucum”, os velhos falaram assim, depois
os pintaram. Fizemos os garimpeiros se sentarem no chão, aí
outro visitante yanomami chegou. Ele viu os garimpeiros, pegou um facão
e quase cortou a cabeça de um garimpeiro. Por isso nós fizemos
um documento.
Adriano, estudante.
Tradução: Joseca Yanomami, Agente Indígena
de Saúde (AIS) do Demini
Documento
2
Nós
Yanomami estamos escrevendo sobre o fato de termos feito alguns garimpeiros
passarem medo. Primeiro nós os prendemos, depois nós raspamos
suas cabeças, depois os pintamos de preto, causando-lhes muito
medo. Com as nossas flechas, com facões, com os nossas bordunas
sihema, tudo que pudesse amedrontá-los, nós pegamos, para
depois rasparmos as suas cabeças, cortando-lhes os cabelos, sendo
que no passado, quando eram os velhos, já chegamos a cortar uma
cabeça de um garimpeiro fora também. Portanto, nós
Yanomami, quando chegaram esses estragadores de florestas no Haxiu, nós
os pegamos. Por isso nós ainda mandamos um, machucado, para o Surucucu.
Nós não aceitamos a permanência de garimpeiros destruidores
de floresta próximo da fronteira, nós os pegamos depois
deles também chegarem ao Haxiu. Por isso, nós escrevemos
nesse documento a nossa maneira de ser, a maneira de ser do Povo Yanomami
do Haxiu.
Tradução:
Emilio Sisipino, professor e segundo secretário da Hutukara Associação
Yanomami. >
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Coordenação Editorial: Bruce Albert (Assessor Antropológico CCPY) e Luis Fernando Pereira (Jornalista CCPY)
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