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Esta seção procura seguir toda a atualidade Yanomami no Brasil e na Venezuela. Apresenta notícias produzidas pela Pró-Yanomami (CCPY) e outras ONGs, bem como notícias de imprensa. Propõe também comentários sobre eventos, publicações, exposições, filmes e websites de interesse no cenário Yanomami nacional e internacional.

Yanomami na Imprensa

Data: 3 - Agosto - 2006
Titulo: O retorno da Malária entre os Yanomami
Fonte: Instituto Socioambiental

De acordo com dados da Funasa, de janeiro a maio de 2006 foram registrados 1906 casos da doença. Mais do que o total registrado em todo o ano de 2005. O recrudescimento da malária e de outras doenças está entre as principais preocupações das lideranças Yanomami. Em fevereiro deste ano, em entrevista ao ISA, o professor indígena Yanomami Dario Vitório Kopenawa expressou seus temores em relação à saúde de seu povo e à falta de controle de doenças.

O aumento no número de casos de malária nos primeiros meses de 2006 em comparação com o total de anos anteriores mostra que os temores de Dario Kopenawa, expressos em entrevista ao ISA, em fevereiro deste ano, tinham razão de ser. (clique aqui e veja o gráfico). Se em 2003, foram registrados 418 casos de malária na área Yanomami, em 2004, ano parcialmente gerido pelo novo sistema implantado pela Funasa, os casos positivos saltaram para 622. A situação, contudo, começou a ficar crítica em 2005, quando os casos positivos somaram 1645. Apesar dos protestos empreendidos pelos índios no ano passado, pedindo melhorias nas condições de saúde, em 2006 mantém-se a tendência de aumento.

Filho de Davi Kopenawa, um dos mais importantes líderes Yanomami, conhecido pelas lutas que empreendeu em favor de seu povo, Dario participou, em novembro de 2005, com mais 30 professores e lideranças indígenas da ocupação da sede da Funasa em Boa Vista, capital de Roraima, para pedir melhores condições de saúde. Eles estavam na cidade fazendo um curso de formação. Dário, que tem 23 anos, e sonha ser advogado, fala nesta entrevista sobre as principais preocupações em relação à saúde de seu povo.

ISA: Como está a saúde dos Yanomami atualmente?

Dario: Em nenhuma região os Yanomami estão bem de saúde. Não tem saúde. Está tudo cheio de malária, tuberculose, coceiras, diarréia ...está faltando tudo. Por isso, a situação ficou muito pior.

Pior que nos últimos anos?

D: Sim, depois que a Urihi saiu (*) voltou a malária. Todos os Yanomami estão muito chateados com a Funasa....Por que? Nós não estamos vivendo bem. Nossos filhos estão morrendo muito, os pata (velhos) também, eles estão morrendo, a malária aumentou muito, não tem remédio, não tem transporte, não tem comunicação para chamar os funcionários.

Você disse que não tem comunicação. E os rádios que foram instalados nas aldeias para agilizar o tratamento de saúde e auxiliar na vigilância territorial?

D: Agora nós Yanomami estamos proibidos...não podemos falar isso, não podemos nos comunicar lá...

Por que não podem?

D: Porque a Funasa proibiu. Para nós isso é uma tristeza, porque o nosso rádio é importante quando acontece alguma coisa e temos que nos comunicar com outra região, falar com outra comunidade. Mas a Funasa não nos deixa falar essas coisas. Os napë (brancos) pensam assim: “Quando os Yanomami usam o rádio eles ficam falando mal da gente, dizendo que os funcionários da Funasa são uns preguiçosos, não trabalham, não fazem nada”. Os napë pensavam isso, por isso eles proibiram o rádio. Mas quando nós queremos falar com outras aldeias, nós pedimos autorização para a Funasa e eles deixam. É assim que acontece. O que nós falamos é importante também. Por exemplo, quando os garimpeiros chegam à minha comunidade eu comunico as pessoas: “Olha, no dia 23 um avião não autorizado chegou por aqui”. Com o rádio nós podemos comunicar o pessoal da Funai. É isso.

Então o rádio facilitava a comunicação para avisar a Funai da chegada dos garimpeiros?

D: É...quando os garimpeiros chegam, o posto mais próximo avisa. Sem rádio, quando os Yanomami ficam na floresta, ninguém avisa. E isso é um problema. Por isso os garimpeiros não saem de lá.

Porque você acha que nos últimos tempos a malária trazida pelos garimpeiros era controlada e agora não é mais?

D: Nós Yanomami pensamos assim: essas ONGs gostam da gente. Por isso eles trabalharam bem. Por isso eles acabaram com a malária. Porque eles gostam da gente e trabalhavam há muito tempo. Eles resolveram a tuberculose, DSTs. Eles trabalhavam bem porque eles andavam muito, não ficavam no posto grudados no rádio. Eles iam a lugares a 5 horas de caminhada, 3 horas de caminhada. Por isso acabou a malária. Agora, a Funasa é do governo. Eles não querem sair na floresta porque tem medo de cobra, dos espinhos que machucam os pés, eles pensam assim. Sempre ficam nos postos onde trabalham. Ficam grudados nos rádios: “aconteceu isso, malária chegou...”

Como está o controle das DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis)?

D: Quando os garimpeiros entraram na nossa terra eles namoraram com as meninas Yanomami e isso espalhou as DSTs. Por isso nós estamos lutando com a Funasa. Porque a Funasa já tem o dinheiro. Mas a Funasa não está ajudando bem. Nós Yanomami pensamos isso. Porque nós pedimos o dinheiro, nós queremos resolver nosso problema de saúde. O Governo brasileiro manda o dinheiro para a sede da Funasa, mas eles não gastam bem porque eles não compram remédio. É isso, está tudo faltando.

Como ficou o tratamento no dia-a-dia agora?

D: O trabalho de vacinação mudou. Agora demora mais ou menos 6 meses. Nós ficamos muito chateados com isso. Quando a Urihi trabalhava eles faziam sempre toda a vacinação ou o atendimento da malária. Agora mudou tudo. Não tem microscópio, não tem lâmina, falta tudo. Não tem remédio, não tem material para fazer a busca ativa (**)

O que aconteceu com os yanomami que foram treinados pela Funasa para ser microscopistas e que faziam a maior parte da busca ativa e participavam ativamente desse trabalho preventivo?

D: Eles estão muito abandonados. Os microscopistas não fazem nada, só ficam à toa.

Eles não são mais contratados para fazer isso?

D: Sim. Porque eles não fazem cursos para formar AIS.(Agente Indígena de Saúde) ...agora mudou tudo...agora eles ficam só nas comunidades. Tem responsabilidade só quando uma pessoa fica doente...só falam com os napëpë (brancos). Não fazem nada porque não tem lâminas, não tem nada. Não tem microscópio.

Falta o material básico?

D: Com certeza. Por isso os microscopistas Yanomami só ficam olhando e pensando: “ E aí? O que nós fazemos agora?”. Quando a Urihi trabalhava, eles trabalhavam junto, iam nos lugares mais distantes, pediam mais lâminas para fazer a busca ativa de novo. Eles faziam assim. Agora está tudo zerado.

Você acha importante recuperar os cursos de formação de AIS, de microscopia, recuperar a participação dos Yanomami no atendimento?

D: Os próprios Yanomami tem que ser os microscopistas. Os napë, os brancos, não índios, eles ficam só três semanas em duas pessoas, às vezes tem três. Depois eles voltam. E o atendimento fica paralisado. Quando os Yanomami tem um auxiliar ou microscopista eles ficam sempre de olho. Quando um visitante chega, eles colhem as lâminas e depois mandam para a cidade. Todos os Yanomami ficaram contentes e os patatëpë (os mais velhos) concordaram. Quando a Urihi saiu isso acabou. Por isso os Yanomami ficaram tristes. Não estão satisfeitos. Não tem os cursos de AIS dos Yanomami.

E aí quando chegam visitantes para as festas, como vocês fazem o controle?

D: Não dá para saber se estão doentes, não tem medicação.

Vocês têm alguma proposta para resolver a questão da saúde indígena? O que é ter uma boa saúde?

D: Sim, no pensamento dos Yanomami saúde com qualidade significa viver bem. Sem malária, sem tuberculose, sem diarréia, sem qualquer doença. Com um atendimento muito bom. Quando acontece em nossa comunidade de uma criança ser picada de cobra, é preciso ter uma remoção rápida, que trate bem, leve para Boa Vista e depois traga de volta para o lugar de onde foi feita a remoção. É isso que nós queremos, para que possamos ficar bem à vontade para viver. Para termos boa saúde. A nossa terra já é demarcada, por isso nós queremos ter boa saúde, trabalhar, fazer roças. É isso que nós queremos. Nós não queremos as doenças.

(*) Nota do editor: a Urihi era a organização não-governamental conveniada com a Funasa, responsável pela saúde de cerca de 50% da população Yanomami de Roraima e Amazonas, que rompeu o convênio em fevereiro de 2004. (Leia mais).

(**)Busca ativa é o exame preventivo para reconhecimento de possíveis casos de malária.

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Coordenação Editorial: Bruce Albert


 

 

 


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