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Cerca
de 85% dos casos de malária registrados dentro na reserva indígena
Yanomami estão na área do Amazonas. Conforme dados da Fundação
Nacional de Saúde (Funasa), no ano de 2004 foram registrados 1.067 casos,
já em 2005 contabilizou 1.645 e somente no primeiro semestre de 2006
foram notificados 2.478 casos.
Um
dos fatores para esse aumento continua sendo a invasão de garimpeiros
na área. Devido à presença de não-índios,
houve uma explosão do número de casos de malária. Segundo
o médico epidemiologista e mestre em saúde pública em concentração
de malária indígena, Oneron Pithan, a presença dos garimpeiros
e a interrupção dos trabalhos de busca ativa dos casos de malária
são os principais fatores para esse crescimento de casos.
“Tivemos
um aumento de mais de 400% de 2005 para 2006 somente no primeiro semestre deste
ano. A partir do segundo semestre de 2005 houve esse incremento, principalmente
nos pólos-base do Estado do Amazonas, que representa cerca de 85% a 90%
da malária na área Yanomami. Essa situação se desencadeou
de forma significativa a partir do segundo semestre de 2005, depois que entrou
a transmissão no pólo-base Ajuricaba e foi para a Missão
do Aracá, onde atuam os Missionários das Novas Tribos, onde houve
dois óbitos pela doença”, disse.
Apesar
do último caso de morte ser registrado em 2000, o trabalho de investigação
na missão Araçá constatou que a malária entrou pelo
Ajuricaba, no Município de Barcelos (AM). “Essa transmissão
estava muito alta em todas as localidades do interior e se espalhou”,
destacou.
Entre
os principais fatores, Oneron explicou que em Barcelos os índios têm
contato com os ribeirinhos durante a extração de cipó.
“Na verdade, essa malária entrou por pescadores, através
do Ajuricaba, e a partir daí a transmissão se instalou”,
comentou. Desde o ano passado que a Funasa vem dando apoio na área do
Amazonas, com o plano emergencial feito pela coordenação em parceria
com o Estado Amazonas.
“Houve
um compromisso pelo nível central da Fundação para a compra
de equipamentos e insumos que precisávamos, mas isso não foi viabilizado.
Porém, somente a coordenação viabilizou e tomou a iniciativa.
Então, requisitamos servidores que estavam descentralizados no município
para reforçar a equipe da Funasa para fazermos o trabalho”, explicou.
Oneron
confirmou que em Roraima os casos foram incrementados também, principalmente
em locais relacionais a garimpos clandestinos dentro da área Yanomami.
“Esse ano houve um aparecimento muito maior de garimpos dentro da área,
desde o ano passado para cá, coincidindo com o aumento da malária
nesses locais, como Parafuri, Arathaú, Ericó, Paapiu Novo e Hixiu”,
declarou.
A
instabilidade dos convênios com as prestadoras de serviços na área
Yanomami foi um dos fatores enfatizados pelo médico para o crescimento
da malária, devido à falta de estabilidade das ações
de busca ativa. “Essa falta de estabilidade com as conveniadas contribuiu
muito para a disseminação e a falta de sustentabilidade das ações
que a gente fez. Quando estávamos estabilizando a situação,
tanto a Secoya [Serviço de Cooperação do Povo Yanomami]
quanto a Fubra saíram de campo”.
A
área ficou praticamente desassistida em plena epidemia de malária
e somente as equipes da Fundação entraram em campo. “Hoje
temos 2.478, com uma incidência média de 15% de toda a população
indígena, com um aumento de 444% em relação ao mesmo período
de 2005”, comentou.
Cerca
87% das malárias são do tipo vivax, a de menor gravidade. “Nos
meses de abril e maio deste ano foram registradas duas mortes por malária
na região do Padauri, quando não tinha ninguém em área,
porque estávamos em outra localidade. Uma foi na localidade de Larraca,
de uma criança. Ela recebeu o diagnóstico e o tratamento via radiofonia,
para que o agente realizasse o tratamento, mas ele não fez”.
O
outro óbito aconteceu no posto da Funai no Padauri, no mês de maio,
também de uma criança de 3 anos. “Falta confirmar o tipo,
mas pela parte clínica foi morte por malária. Essa criança
estava acompanhando os pais que foram retirar piaçaba”, destacou.
EXAMES
- Nos primeiros seis meses foram colhidas 45.594 lâminas na população
de 15.686 índios, dando uma média de três lâminas
por paciente. “Isso é devido a nossa metodologia de controle, porque
trabalhamos buscando novos casos e esgotar a fonte de infecção
humana e a fonte de infecção vetoral, para interromper transmissão
no local”, analisou Oneron Pithan.
O
trabalho vem sendo desenvolvido desde setembro na área do Amazonas, nos
principais pólos-base onde surgiu a malária. Dos 37 pólos-base,
até maio desde ano, eram 16 pólos com transmissão da malária.
O restante dos 19 pólos está sem transmissão da doença.
“Seis
pólos, sendo eles Parafuri Toototobi, Balawa-ú, Marari, Padauiri
e Marauiá, representam cerca de 85% do total de casos notificados de
malária. Essas áreas são as mesmas que estamos trabalhando.
O que tem acontecido é uma situação de falta de sustentabilidade
das ações, devido às interrupções e também
a falta de controle da malária no Município de Barcelos. Não
adianta a gente fazer um controle para interromper a transmissão e manter
a mesma fonte de transmissão do município nas localidades ribeirinhas”,
analisou.