Selecione o Periodo:
De
   
Até
 

 



Clique e acesse o projeto Cartografia Yanomami
 
Clique e acesse !
 
Clique e acesse !

 

Pesquisa Geral
 

Brasília,     


.  

 

 

 


Untitled Document

Esta seção procura seguir toda a atualidade Yanomami no Brasil e na Venezuela. Apresenta notícias produzidas pela Pró-Yanomami (CCPY) e outras ONGs, bem como notícias de imprensa. Propõe também comentários sobre eventos, publicações, exposições, filmes e websites de interesse no cenário Yanomami nacional e internacional.

Notícias CCPY Urgente

Data: 9 - Novembro - 2006
Titulo: Alto grau de representatividade na assembléia da Hutukara Associação Yanomami gera panorama mais completo da atual situação do povo yanomami
Fonte: Boletim Pró-Yanomami Nº 83

Untitled Document

Alto grau de representatividade na assembléia da Hutukara Associação Yanomami gera panorama mais completo da atual situação do povo yanomami

Saúde, educação, relação com instituições públicas e não-governamentais e proteção da terra foram apenas algumas das temáticas que compuseram uma abrangente análise da situação dos Yanomami durante a II Assembléia Geral da Hutukara Associação Yanomami (HAY), na cidade de Boa Vista, Roraima. Entre os dias 15 e 20 de outubro, cerca de 50 representantes yanomami de mais de 33 regiões dos estados de Roraima (RR) e Amazonas (AM) levantaram e discutiram informações sobre a diversidade de situações, problemas e demandas enfrentadas atualmente, tanto os considerados de ordem mais interna quanto os relativos à interação com a sociedade nacional.

A ampliação do número de participantes foi um dos principais diferenciais desta assembléia em relação à primeira, ocorrida em 2004, na comunidade dos Watoriki theri, Demini, quando a associação foi oficialmente criada (Ver Boletim 55). Além das 13 sub-regiões representadas no encontro anterior, participaram delegados do Ajarani, Ajuricaba, Alto Mucajaí, Aracá, Arathau, Baixo Catrimani, Ericó, Hakoma, Haxiu, Jundiá, Palimiú, Parafuri, Saúba, Surucucu, Uraricoera, Waputha e Xitei (Ver Mapa Abaixo).

Com a quase totalidade da população yanomami no Brasil representada no encontro, pôde-se compor um quadro rico e único, do qual resultou uma série de documentos, encaminhados ao público e às agências governamentais (Ver Documentos 1, 2, 3, 4, 5 e 6). Persistência das invasões de garimpeiros, fazendeiros e pescadores, perspectivas para o atendimento de saúde, devolução de amostras de sangue em posse de laboratórios, reconhecimento das escolas yanomami e falta de agilidade dos órgãos públicos para a emissão de documentos foram os temas centrais dos debates.

Além dos assessores da CCPY vários funcionários de instituições públicas e organizações não-governamentais foram convidados para compor momentos de diálogo e discutir assuntos pertinentes, elencados em pauta previamente organizada pelos Yanomami. Participaram representantes da Fundação Nacional do Índio (Funai-RR), Casa do Índio (Casai-RR), Diocese de Roraima, Secretaria do Índio/RR, Organização das Mulheres Indígenas de Roraima (OMIR), Pastoral Indígena, Núcleo de Educação Escolar Indígena do Estado de Roraima (NEI-RR), Conselho do Povo Indígena Ingarikó (Coping), Núcleo Inskiran da Universidade Federal de Roraima (UFRR), Ministério Público Federal (MPF-RR), Fundação Nacional de Saúde (Funasa-RR), Instituto do Meio-Ambiente (Ibama-RR) e Conselho Indígena de Roraima (CIR).

Na pauta também foram discutidos os atuais e os futuros projetos da Hutukara. Além dos projetos em curso de valorização de cantos, capacitação e treinamento de gestores e implantação de sistema próprio de radiofonia para agilizar a comunicação entre as regiões, os Yanomami delinearam o quadro futuro de atividades, que inclui a realização de um curso para a manutenção do sistema de rádio com capacitação de operadores, busca de apoio do governo às escolas da floresta, conclusão e certificação da formação dos professores, elaboração de livros didáticos nas línguas yanomami, fortalecimento da atuação da associação em área e formação de agentes agroflorestais.

Durante a assembléia os Yanomami puderam também visitar os locais de funcionamento de instituições consideradas como importantes para o diálogo com os brancos, como as sedes da Funai, da Funasa e do Ibama, o Palácio do Governo, a Secretaria Estadual de Educação e o campus da UFRR.

Proteção da terra

Apesar da quase infindável série de denúncias e documentos dos Yanomami sobre atividades ilegais em área indígena (Ver Boletins 34, 43, 45, 47, 63, 65, 72, 73, 78 e 80), os esforços para resolver e até minimizar os problemas decorrentes são infrutíferos. Essa foi a conclusão à qual chegaram os participantes da Assembléia após relacionarem e discutirem a situação de cada região. A atuação dos garimpeiros constitui a ameaça mais imediata e séria à integridade dos Yanomami, principalmente nas áreas do Ajarani, Ericó, Waikas, Catrimani, Catrimani I e Papiu: “No Catrimani tem garimpeiros mas eles não são expulsos. Por isso as doenças não acabam. Por causa da presença de garimpeiros, tem malária, a água está suja, por isso os Yanomami estão preocupados. No Catrimani I ainda há outros, fazem casas de lona.

Subindo o Rio Catrimani, muitos garimpeiros estão trabalhando e os nossos peixes estão morrendo”. Além da poluição da água e proliferamento de doenças, os Yanomami denunciam no documento enviado à Funai, à Polícia Federal, ao Ibama, ao MPF, ao Ministério do Meio Ambiente e ao Ministério da Justiça o impacto social decorrente da presença dos garimpeiros: “No Pothomatha os garimpeiros também estão lá mas não são expulsos. Eles pegaram as mulheres dos Sanöma com as quais já têm filhos, essa é a situação. Na floresta onde moram os Hokomawö há garimpeiros. Eles descem na pista do Quincas (Bonfim) e pelo caminho, chegam na casa dos Sanuma.

Lá, em troca de espingardas, os garimpeiros levam as mulheres e o ouro de nossa terra. É só um garimpeiro mas que possui duas mulheres sanuma. Quando eles chegaram, as mulheres querem trocar comida, e os homens querem trocar espingardas”. (Ver Documento 1)

Atendimento em saúde

Objeto recorrente das preocupações e debates dos Yanomami desde as mudanças ocorridas em 2004 (Ver Boletins 45, 46, 47 e 49), o atual modelo de atendimento de saúde mantido pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa) em parceria com várias instituições conveniadas, como a Fundação Universidade de Brasília (Fubra), em Roraima, foi considerado como repleto de falhas. Reafirmando o que já fora expresso anteriormente em diversas ocasiões (Ver Boletins 77 e 81), houve consenso ao apontar o CIR como a organização ideal para a manutenção do atendimento em terra yanomami, dados o antigo histórico de parcerias políticas e a larga experiência que seus profissionais têm, lidando há anos com a saúde no Distrito Sanitário Leste de Roraima, entre as populações Makuxi e Wapixana, entre outras: “Nós lideranças yanomami pretendemos transferir ao CIR o nosso atendimento em saúde. E por que queremos fazer isso? Os motivos são óbvios, a qualidade do atendimento em saúde hoje não é igual à qualidade que a Urihi – Saúde Yanomami prestava, por isso queremos que o CIR assuma o atendimento. O CIR sabe fazer um bom atendimento em Saúde. Além disso, o pessoal do CIR é indígena como nós, e por isso acreditamos que cuidarão bem de nossa saúde”. (Ver Documento 2)

Educação

Os Yanomami também reafirmaram o desejo de um sistema escolar fundamentado nas suas línguas, sem no entanto dispensarem a apreensão, pelos mais de 1200 alunos, de novos conteúdos dos brancos, como História, Matemática, Geografia, Ciências e Língua Portuguesa. Consideram que, mais do que representar um risco à sua cultura, apenas dessa forma é possível manterem estruturas tradicionais de organização social, base de sua identidade e força frente aos problemas decorrentes do contato: “Vocês não devem pensar que os Yanomami vão perder sua cultura com escola, não é isso, nós não queremos apenas que nossas crianças cresçam sem educação escolar. Por isso, escutem o que estamos dizendo e nos apóiem realmente, porque todos yanomami que ainda não têm escola também querem estudar”.

O principal problema apontado para a continuidade das aulas em vários locais é a falta de material escolar básico que interrompeu as atividades em diversas escolas e prejudicou o andamento dos trabalhos nas 72 restantes. Além disso, os Yanomami reivindicam apoio à formação dos 143 professores e à atuação de organizações que agem em parceria nesse processo. (Ver Documento 3)

Devolução do Sangue

Outro grave problema que persiste à revelia dos Yanomami e que foi rediscutido na Assembléia é o da polêmica das amostras de sangue, recolhidas por pesquisadores de instituições nacionais e estrangeiras sem serem seguidos os processos apropriados de esclarecimento e de consentimento dos pacientes (ver Boletins Pró-Yanomami 11, 23, 25, 26, 32, 41, 59, 76 e 82).

Apesar de procedimentos ilegais de coleta de material genético entre populações indígenas não serem raridade no Brasil, um passo decisivo foi dado com a recente devolução das amostras de DNA em posse da Universidade Federal do Pará (UFPA), o que constitui um marco na história do direito brasileiro (Ver Boletim 82). Entretanto, outras amostras permanecem em laboratórios norte-americanos da Pennsylvania State University, da Binghamton University, do National Cancer Institute e da University of California, apesar dos pedidos constantes do MPF-RR e dos Yanomami, que anseiam pela devolução para darem fim aos vestígios de parentes falecidos, seguindo os ritos funerários apropriados: “De acordo com nossa cultura Yanomami, nenhuma parte dos nossos corpos pode permanecer”.

No documento elaborado para reiterar o pedido, os Yanomami ressaltam como a coleta se deu sem a preocupação de explicações sobre o uso do sangue e permeada de mal-entendidos: “Os anciões Yanomami não sabiam falar a língua deles (pesquisadores) e por isso não se recusaram. ‘Por que eles estão pegando nosso sangue?’, os Yanomami pensaram nisso mas não entendiam a língua dos brancos”. (Ver Documento 4)

Yanomami e os “silvícolas”

Para os Yanomami os argumentos contidos no livro “Curso de Direito Constitucional” (Editora Forense), do jurista Paulo Napoleão Nogueira da Silva, constituem mais um capítulo de um longo drama no qual são alvos de idéias preconceituosas e desqualificadoras (Ver Boletim 41).

No capítulo XLII da referida obra, intitulado “Os silvícolas”, há a reprodução de uma série de estereótipos utilizada há tempos por setores xenófobos, contrários às reivindicações das populações indígenas no estado de Roraima. Para tanto, é recorrente o uso de argumentos falaciosos, como o da manipulação dos índios por potências estrangeiras, através de ONGs e com financiamento do capital internacional, no intuito de se criar um Estado independente do Brasil e resguardando as potenciais riquezas da terra yanomami, como apontado no documento: “O nome verdadeiro da nossa terra é Terra Indígena Yanomami e não República Socialista Ianomami. Na Constituição Federal do Brasil, no artigo 231, garante o nosso direito a terra”.

Depois de uma apurada análise do conteúdo e demonstrando pleno conhecimento da Constituição Federal brasileira, os Yanomami respondem aos argumentos com precisão, lembrando que são tão brasileiros quanto o autor: “Hoje, em 2006, somos 27.000 Yanomami, vivendo na Venezuela e no Brasil. Nós não pretendemos nos separar do Brasil. Nós não pretendemos dar a nossa terra para outros “brancos”, porque ela é muito importante para nós. Nós nascemos no Brasil, por isso somos brasileiros. Nós não temos alianças com os Estados Unidos e a União Européia”. (Ver Documento 5)

Documentação

Os Yanomami ainda encontram dificuldades em obter documentos, apesar de atuarem em profissões reconhecidas pelo Estado, como as de microscopistas e de professores, e de há anos reivindicarem empenho dos órgãos responsáveis (Ver Boletins 22 e 35). Com exceção de um pequeno grupo que conta com carteira de identidade e CPF, os Yanomami se sentem tolhidos de seus direitos e impossibilitados de transitarem de forma igualitária pelos espaços garantidos ao “cidadão” brasileiro: “Ainda neste ano, em dezembro a Secretaria Estadual de Educação fará processo seletivo, os professores que não tiverem Carteira de Identidade e CPF não poderão participar. Nas nossas comunidades temos Agentes Indígenas de Saúde que recebem salário, por isso querem documentos para abrir conta no Banco, sem documentos isso não é possível.

Nas nossas escolas os alunos também não têm documentos e a Secretaria Estadual de Educação exige, por isso queremos tirar documentação dos nossos alunos (...)Quando andamos pelas ruas da Cidade a Polícia nos para e pede documentos, nós ficamos com medo”. Nos documentos enviados à Funai e ao Ministério Público Estadual, pedem agilidade na emissão dos documentos, ítem indispensável para sua livre locomoção e agir, sem a necessidade de autorizações, como se fossem “crianças”: “Nós, Yanomami, somos brasileiros, temos direitos garantidos na Constituição Federal, por isso pedimos providências mais breve possível”.

(Ver Documento 6)

Untitled Document
Coordenação Editorial: Bruce Albert (Assessor Antropológico CCPY) e Luis Fernando Pereira (Jornalista CCPY)

 

 

 


  Para informações adicionais favor enviar

  e-mail para o escritório central da
  Comissão Pró-Yanomami no seguinte
  endereço:
   
  proyanomamibv@proyanomami.org.br
   

Comissão Pró-Yanomami © 2007
A comissão incentiva a veiculação dos textos desde citadas as fontes.