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Esta seção procura seguir toda a atualidade Yanomami no Brasil e na Venezuela. Apresenta notícias produzidas pela Pró-Yanomami (CCPY) e outras ONGs, bem como notícias de imprensa. Propõe também comentários sobre eventos, publicações, exposições, filmes e websites de interesse no cenário Yanomami nacional e internacional.

Yanomami na Imprensa

Data: 11 - Abril - 2007
Titulo: QUEDA DE CESNA - Sobrevivente narra drama de acidente
Fonte: Folha de Boa Vista

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QUEDA DE CESNA - Sobrevivente narra drama de acidente

Ainda bastante emocionado, depois de oito dias da queda do avião monomotor Cesna 206 prefixo KBA, na região do Catrimani, na terra indígena yanomami, o único sobrevivente da tragédia, o auxiliar de epidemiologia Marcos Xavier Cardoso, falou com a imprensa ontem pela manhã e relatou todos os momentos vividos por ele, desde a queda até o momento do resgate.


Marcos Xavier Cardoso usou um machado e um terçado para abrir uma clareira

Marcos contou que o avião decolou da Missão Catrimani, no sábado, 31, por volta de 12h45, com destino à região do Baixo Catrimani, onde seria feita a troca da equipe de trabalho. Além dele, estavam o piloto Paulo Lopes e o técnico de enfermagem Darciel Santos Carvalho. Depois de 10 a 12 minutos de vôo, o piloto avisou que a hélice da aeronave não estava funcionando bem e que eles se preparassem para cair.

“Não levamos a sério o piloto e falamos para ele parar com a brincadeira. Mas ele voltou a repetir o que disse antes e abriu a porta da aeronave, orientando para que jogássemos parte da carga fora, aliviando o peso, para um pouso de emergência na mata, pois não tínhamos outra alternativa”, relatou Marcos.

Ele disse que a hélice parou de funcionar de vez e o piloto inclinou o avião para o lado direito e caíram. Um fato incrível durante a queda, segundo o sobrevivente, foi o avião não ter batido em nenhuma árvore grande, o que teria feito ele explodir imediatamente. “Batemos apenas em pequenas árvores. Depois que chegamos ao chão o avião saiu deslizando na mata, deixando um rastro por baixo das árvores maiores”, disse.

DESESPERO – Marcos relatou que, quando o avião chegou ao chão, ele saiu correndo e acreditava que Darciel já tivesse saído, pois ele estava próximo à porta, mas não foi o que aconteceu. Só depois de alguns segundos Marcos ouviu Darciel lhe chamar e viu que ele estava bastante queimado. O piloto morreu na hora da queda.

“Na primeira explosão, eu ainda estava no avião e foi quando saí correndo. Depois foram mais duas explosões, sendo que a última destruiu completamente a aeronave. Neste momento eu já estava com o Darciel e nos afastamos dos destroços, nos instalando próximo a um igarapé”, explicou.

Marcos afirmou que Darciel foi um herói e resistiu bravamente do sábado (dia da queda) até segunda-feira, 02, por volta de 7h30. Ele disse que neste intervalo ficou ao lado Darciel o tempo todo, dando a assistência possível diante da situação.

“Eu dava água para ele e me esforçava para transmitir segurança. Ele reclamava que as queimaduras na costa, nos braços e no rosto estavam doendo muito e eu tive a idéia de pegar argila bem fina do igarapé, fazer uma pasta e passar nos ferimentos. Com isso, ele disse que as dores aliviaram mais. Ele estava esperançoso de sobreviver. Dizia para mim que um avião ia nos localizar e nos levar de volta para a cidade. Que ele iria para o hospital, seria medicado e ficaria bem”, relembrou Marcos.

SOBREVIVÊNCIA – O auxiliar de epidemiologia disse que sua sobrevivência só tem uma explicação: obra de Deus. Para ele, só Deus para lhe dar forças para suportar tudo o que aconteceu. Ter resistência de ver um amigo morrer e, mesmo assim, acreditar que ainda poderia sair do local com vida.

“Quando Darciel morreu, eu me senti só, pois era a única pessoa que tinha para conversar e para ocupar o meu tempo, pois ficava ajudando ele em tudo. Depois que ele morreu eu me apeguei mais ainda com Deus, pedindo para sair daquela situação. E em momento algum me desesperei, nem perdi a confiança que Deus poderia me tirar daquele lugar”, afirmou Marcos.

Para sobreviver, ele contou que se alimentou de uma fruta amarela da região chamada patuá, bastante doce, o que fez manter uma boa taxa de glicose, lhe dando forças para abrir uma clareira com dois facões e um machado que conseguiu encontrar nos destroços do avião.

RESGATE – A aeronave foi localizada quatro dias após a queda, na quarta-feira, por uma equipe do Salvamento Aéreo da Aeronáutica sediado em Manaus (AM). O local estava fora da rota da aeronave, entre as serras Mocidade e Pacu, na floresta próxima à Missão Catrimani. As aeronaves que faziam busca já tinha passado pelo local no domingo, mas as chuvas e o nevoeiro impediram a visibilidade.

Marcos contou que com o facão e o machado que estavam no avião conseguiu abrir uma clareira e levou um pedaço da asa do avião para o local, pois era branca e refletia os raios do sol, servindo como sinalizador para as equipes de busca. “Só assim conseguiram me localizar, pois a mata era muito fechada e o tempo não estava ajudando”, complementou.

FUTURO – Depois dessa tragédia Marcos afirmou que não pretende mais trabalhar com os yanomami e não quer mais saber de voar. Segundo ele, este foi o segundo acidente aéreo que sofreu e não quer passar pelo terceiro.

“O primeiro acidente foi um pouso forçado em 2005, no Município de Alto Alegre, quando também estava trabalhando. Mas agora basta. Para mim, já foi o suficiente, não quero mais saber de voar e acredito que foi um aviso. Resistir a duas quedas de avião é muito para uma pessoa e não quero mais passar por isso”, afirmou.

O auxiliar de epidemiologia disse que quer cuidar mais de si, da família e em especial de sua filha de 10 anos que depende muito de dele. “O tempo que trabalhei fui totalmente dedicado à minha profissão, aos yanomami, mas agora preciso pensar em mim e chegou a hora de parar. Tudo tem um limite. E minha hora de parar é essa. Agora é vida nova, vou procurar outra coisa para fazer e não quero mais voltar a voar”, afirmou Marcos.

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Coordenação Editorial: Bruce Albert (Assessor Antropológico CCPY) e Luis Fernando Pereira (Jornalista CCPY)

 

 

 


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