Yanomami qualifica de inútil compra de floresta promovida por ONGs
HOME PAGE CLICA BRASILIA, 16.10.2007
Preocupação com os efeitos da mudança climática levou ONGs a proporem
a compra de áreas florestais como forma de ajudar a preservar as matas
e reduzir as emissões de CO2. Para o líder Yanomami, a salvação da
floresta começa pelo reconhecimento e proteção dos territórios
indígenas O líder Yanomami Davi Yanomami criticou hoje em Londres a
compra de hectares de floresta promovida por algumas ONGs para ajudar
a preservar a Amazônia e qualificou a medida de "inútil". Na
apresentação do novo relatório da organização internacional Survival,
o índio afirmou que as matas "não podem ser compradas" e que a única
forma de salvar a floresta tropical é protegendo seus habitantes
através do reconhecimento de seus direitos. Esta mesma posição é
defendida pela Survival, que, em seu último relatório, afirma que
surte mais efeito para a preservação da floresta amazônica a proteção
dos territórios indígenas da região que a mera compra do terreno.
"Vocês napëpë (brancos) falam sobre o que chamam de desenvolvimento e
nos pedem que nos comportemos como vocês. Mas sabemos que isto só nos
traz doença e morte", disse o indígena. "Preocupo-me com que agora
queiram comprar pedaços de floresta e cultivar biocombustível
sem levar em conta nossa opinião, porque algum dia vocês terminarão
vendendo-os" , afirmou Davi, agraciado com o Prêmio Global 500 da ONU
em 1989. Acompanhado de seu filho, ele alertou para a destruição da
floresta causada pelas mineradoras e pelos garimpeiros e afirmou que
os indígenas não precisam de dinheiro, mas sim de respeito e de que
seja exercida pressão sobre os Governos, especificamente o do Brasil.
Davi ressaltou que na quarta-feira visitará o número 10 de Downing
Street, residência oficial do primeiro-ministro do Reino Unido, Gordon
Brown, para entregar uma carta na qual pede o reconhecimento dos
direitos dos indígenas da Amazônia. A crescente preocupação com os
efeitos da mudança climática levou ONGs a proporem a compra de áreas
florestais como forma de ajudar a preservar as matas e reduzir as
emissões de CO2. Segundo o último relatório da Survival, intitulado"Progress can Kill" (O progresso pode matar), graças à proteção de
territórios indígenas já foi possível salvar mais de 162 milhões de
hectares da floresta amazônica.Isto é 15 mil vezes mais do que as ONGs
como a Cool Earth, que defende a compra de hectares de florestas,
pretendem proteger. Davi ressaltou que retirar os indígenas de sua
terra colabora para o aparecimento de doenças físicas e mentais nos
Yanomami, que habitam a maior reserva indígena em florestas tropicais.
O número de casos de malária entre os Yanomami do Brasil foi de 1.400
em 2005, segundo os últimos dados disponíveis, o que é mais que o
dobro que o registrado no ano anterior, em um momento em que a doença
ameaça se transformar em uma epidemia para a população. O líder
indígena atribuiu o problema à falta de atendimento médico e à
escassez de remédios e acusou os garimpeiros de terem introduzido a
doença entre os habitantes da tribo, há mais de 30 anos. Os Yanomami,
que habitam a região amazônica entre a Venezuela e o Brasil, são um
dos povos com menor contato com a civilização entre os índios
brasileiros e ocupam uma das maiores reservas do país, com cerca de
9,6 milhões de hectares.