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Brasília,     


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Esta seção procura seguir toda a atualidade Yanomami no Brasil e na Venezuela. Apresenta notícias produzidas pela Pró-Yanomami (CCPY) e outras ONGs, bem como notícias de imprensa. Propõe também comentários sobre eventos, publicações, exposições, filmes e websites de interesse no cenário Yanomami nacional e internacional.

Notícias CCPY Urgente

Data: 5 - Novembro - 2007
Titulo: Saúde Yanomami: das metástases ao cancer
Fonte: Comunicado URIHI - 05/11/2007

Comunicado URIHI - Out/2007

“Os Yanomami precisam de saúde para sobreviver e a atenção à saúde que a Funasa vem prestando a nós, não funciona (...)” Davi Kopenawa, Presidente da Hutukara Associação Yanomami, ao Ministro da Saúde, José Temporão, São Gabriel da Cachoeira, 21 de setembro de 2007.


*


      A assessoria de imprensa da FUNASA, no auge do impacto da Operação Metástase da Polícia Federal em Roraima, onde uma quadrilha, formada pela sua Coordenadoria regional e empresários locais, desviou, de acordo com a imprensa, 34 milhões de reais entre 2005 e 2007, teve, de repente, a surpreendente idéia de publicar no seu site uma lista de falsas acusações sobre a ONG URIHI Saúde Yanomami (ONG indigenista e não indígena).

» Ler a nota da FUNASA de 29/10/07, Nota sobre a ONG Indígena URIHI :
http://www.funasa.gov.br/Web%20Funasa/not/not2007/not406.htm

      O estranhamento à leitura da nota é duplo. Por que reescrever a história das relações FUNASA-URIHI de maneira tão deturpada, apesar das evidências publicadas pelo próprio órgão e, sobretudo, por que ter escolhido este momento (4 dias após o desenlace da Operação Metástase)?

Uma maquiagem da história

      
A nota da FUNASA alega que o órgão teve a iniciativa de não renovar em 2003 o seu convênio com a URIHI em razão de supostos descumprimentos de ações pactuadas e irregularidades. Nada mais falso, e publicamente documentado como tal.
      Em realidade, a URIHI anunciou a sua decisão de não renovar seu convênio com a FUNASA em janeiro de 2004 em função de sua discordância com as mudanças na política de saúde indígena determinadas pelas Portarias Ministeriais Nº 69 e 70. Essa decisão, amplamente divulgada no meio indigenista e na imprensa em geral, baseou-se no fato de que estas portarias voltavam a centralizar, nas coordenações regionais da FUNASA, as operações para a assistência nos Distritos Sanitários Indígenas, sem que o órgão tivesse se preparado técnica, administrativa e politicamente. O único movimento de ajuste visível desta “reforma” foi o loteamento político das Coordenações Regionais do órgão para partidos governistas. Ao mesmo tempo, essas portarias limitavam a ação das ONGs à mera contratação de recursos humanos, caracterizando uma irregular triangulação de pagamento de pessoal para o exercício de atividades diretamente executadas pelo poder público. Quatro anos depois, a relevância das criticas da URIHI foi totalmente comprovada: a coordenadoria regional da FUNASA está presa por suspeita de desvio de 34 milhões de reais da saúde indígena e a malária voltou aos níveis epidêmicos na TI Yanomami .

» Ler o Comunicado CCPY de dezembro de 2003: A FUNASA a ponto de desmantelar a saúde indígena?
http://www.proyanomami.org.br/boletimMail/yanoComunicado/html/5comunicado_05_12_03.htm

» Ler o Comunicado de janeiro de 2004 no qual a URIHI analisa a reforma da saúde indígena e anuncia sua decisão de não renovar seu convênio: Saúde Yanomami : « novo modelo » ou retrocesso?
http://www.proyanomami.org.br/v0904/index.asp?pag=noticia&id=3001

A FUNASA desmentindo a FUNASA 

      Esta falsificação a posteriori da história das relações entre a FUNASA e a URIHI fica ainda mais óbvia quando são lembradas as declarações do então diretor do Departamento de Saúde Indígena, Dr. Alexandre Padilha, explicando, em comunicado de junho de 2004, a recusa da URIHI em assinar novo convênio:

« A parceria com a Urihi - Saúde Yanomami iniciou-se em 2000 e seu término se deu após um longo processo de discussão iniciado em fevereiro de 2004, durante a I Oficina Integrada de Saúde Indígena, após publicação da Portaria Ministerial nº 70 que define as diretrizes do modelo de gestão da saúde indígena (...)  o convênio da FUNASA com a Urihi conseguiu bons resultados na redução da mortalidade infantil e no controle da malária nas regiões em que atuou entre os Yanomami nos estados de Roraima e Amazonas . (...) Com a não aceitação da pactuação por parte da Urihi, a Funasa passou a estudar alternativas que garantam a continuidade da assistência. Neste sentido, foi contatada a Universidade de Brasília, por considerá-la uma instituição de reconhecida qualidade na assistência a saúde e gestão administrativa e passou-se a negociar um plano de trabalho para a região assistida pela Urihi.  »
( http://www.funasa.gov.br/Web%20Funasa/not/not2004/not133.htm).

      A decisão da URIHI foi também lamentada pelo então Secretário Executivo da FUNASA, Sr. Lenildo Morais, em entrevista à revista Época, reconhecendo novamente a qualidade do trabalho da entidade:     

“ Não tenho nenhuma ressalva a fazer sobre a atuação técnica e administrativa da Urihi. Eles trabalham muito bem e ficamos tristes que não houve acerto.”
( Época, 31/05/2004: De volta ao passado .).

FUNASA-RR e FUB no descalabro do Distrito Sanitário Yanomami 

      Não ter renovado seu convênio com a FUNASA em 2004 não significa que a URIHI renunciou à sua responsabilidade na fiscalização da eficiência dos serviços sanitários prestados aos Yanomami, muito pelo contrário. Neste contexto, a entidade vem denunciando desde 2005 a progressiva degradação da situação sanitária na TI Yanomami bem como o inexplicável e espetacular crescimento do orçamento investido na FUNASA de Roraima.

» Ler os Comunicados URIHI e Boletins CCPY de 2004 a 2007 sobre a degradação da saúde Yanomami: http://www.proyanomami.org.br/v0904/index.asp?pag=boletim

      Esta situação escandalosa achou parte de sua explicação nas primeiras investigações da Operação Metástase lançada na FUNASA-RR pela Policia Federal em 25/10/07. Porém, pouco antes da Operação Metástase, em 3/10/2007, a URIHI denunciou também a renovação de um polêmico convênio da FUNASA com a Fundação Universidade de Brasília (FUB) para a saúde Yanomami.

» Ler o Comunicado URIHI de outubro de 2007: Saúde Yanomami: crônica de um descalabro anunciado : http://www.proyanomami.org.br/boletimMail/yanoComunicado/html/comunicado_urihi_03102007.htm

      De fato, graves irregularidades têm sido detectadas na gestão deste convênio pelo Ministério Público Federal e o pelo Tribunal de Contas da União - TCU em seu Acórdão 1026/2007 (Processo TC-019.700/2005-4). Este julgamento teve ampla repercussão na imprensa nacional. Bastará citar aqui o eloqüente editorial do O Estado de S. Paulo de 26/6/2007:

“O caso mais grave de mau uso de dinheiro público, julgado recentemente pelo TCU, refere-se a um convênio firmado em 2004 pela Fundação Nacional de  Saúde (Funasa) e pela Fundação Universidade de Brasília (FUB) para a prestação de assistência médica a uma tribo ianomâmi. O processo administrativo foi instruído por uma auditoria pedida pela Procuradoria-Geral da República. Segundo o TCU, o valor original do convênio era de R$ 10,9 milhões, mas, depois de receber 12 aditivos, passou a valer R$ 25,9 milhões. Além disso, não houve licitação pública para a contratação do órgão responsável pela assistência médica aos ianomâmis e parte dos recursos repassados pela Funasa à FUB acabou sendo utilizada para o pagamento de funcionários terceirizados. Entre as irregularidades detectadas pelos auditores do TCU estão autorizações de despesas sem correlação com as metas previstas pelo convênio, pagamento de pessoas sem especificação das funções que desempenharam e até despesas com serviços de taxi aéreo. Por fim, como o Estado mostrou em reportagem, os benefícios propiciados aos ianomâmis foram classificados como duvidosos, uma vez que o número de casos de malária aumentou significativamente durante a vigência do convênio.”

» Ler o Acordão do TCU sobre o convênio da FUB (p. 68 do documento PDF)
http://www2.tcu.gov.br/pls/portal/docs/PAGE/TCU/SESSOES/ATAS/PLENARIO/PLENARIO2007/ATA_22_PL_DE%2030-05-2007.PDF

      Entretanto, apesar desta condenação pelo MPF e TCU em 30/5/2007, o convênio da FUB foi renovado pela FUNASA diversas vezes até a véspera da Operação Metástase. Essa renovação sempre contou com o zeloso apoio do Coordenador Regional da FUNASA de Roraima, Dr. Ramiro Teixeira, apontado pela PF como o chefe da quadrilha responsável pelo desvio de 34 milhões de reais da saúde indígena de Roraima.

» Ler a defesa do convênio da FUB pelo Coordenador da FUNASA-RR, Dr. Ramiro Texeira, contra as denúncias da Hutukara Associação Yanomami, dois dias antes de ser preso pela PF como chefe do esquema de corrupção desbaratado pela Operação Metástase:
http://www.folhabv.com.br/noticia.php?pageNum_editorias=2&editoria=politica&Id=30878

Porque tentar desmoralizar a URIHI hoje ?

      Após se recusar a pactuar com o novo modelo de convênio proposto pela FUNASA, a URIHI começou a denunciar em 2005 as previsíveis conseqüências desta “reforma”: fraude nas licitações (aviões, medicamentos e obras), aumento injustificável dos gastos no Distrito Sanitário Yanomami (FUB e FUNASA gastavam juntas por ano duas vezes e meio o antigo orçamento da URIHI) e resultados sanitários desastrosos. Estas denúncias foram submetidas ao Ministério Público e amplamente divulgadas na imprensa nacional e internacional.

      Ao invés de apurar devidamente estas denúncias – confirmadas agora pela Operação Metástase – a FUNASA optou por uma inconseqüente estratégia de retaliação contra a URIHI. O órgão deflagrou assim uma série de auditorias retrospectivas contra a entidade, em colusão com parlamentares de Roraima; bancada responsável pelas emendas do orçamento da União que abasteceram os esquemas de corrupção desbaratada pela PF. Para sustentar esta perversa operação, os procedimentos administrativos recomendados e aprovados pela FUNASA entre 1999 e 2003 passaram, a partir de 2004, a ser considerados irregulares através de uma reinterpretarão politicamente enviesada do precário quadro jurídico que rege os convênios do órgão com as ONGs.

      Para concluir a armadilha de sua retaliação sobre a URIHI, bastou à FUNASA alimentar o TCU (acionado pelas queixas contra URIHI de políticos de Roraima) com documentação enviesada, maquiando a história das suas relações outrora prestigiadas (de 1994 a 2004) com a ONG, e mobilizando apoios políticos interessados em calar as denúncias da URIHI (e das outras entidades pró-yanomami, como a CCPY e a HUTUKARA Associação Yanomami).

*


      Em guisa de conclusão sobre este caso exemplar, deixaremos aqui para a reflexão dos leitores três perguntas insistentes:

•  Quem dentro da FUNASA teria interesse em acusar retroativamente, em tempos de Operação Metástase, a URIHI, ONG que teve uma reconhecida atuação na Terra Indígena Yanomami entre fim de 1999 e meados de 2004 e que, desde então, passou a incomodar por denunciar corrupção e incompetências na assistência à saúde na Terra Indígena Yanomami?

•  Por que tanta e persistente benevolência com o convênio da FUB (2004-2007), condenado pelo MPF e pelo TCU em maio de 2007, e cujo vultoso orçamento resultou em indicadores sanitários calamitosos (um aumento de 1.117 % dos casos de malária)? Sabendo, ainda, que esta entidade é, muito provavelmente, a maior beneficiária em convênios de saúde indígena no Brasil alcançando, no período, um valor total de cerca de R$ 66 milhões de reais .

» Ver os Convênios FUNASA-FUB 2004-2007 (para as etnias Yanomami e Xavante, principalmente):

http://www.cgu.gov.br/convenios/DetalhaConvenio.asp?CodConvenio=506137
http://www.cgu.gov.br/convenios/DetalhaConvenio.asp?CodConvenio=501354
http://www.cgu.gov.br/convenios/DetalhaConvenio.asp?CodConvenio=528661
http://www.cgu.gov.br/convenios/DetalhaConvenio.asp?CodConvenio=509382

•  E, por último, por que a Presidência da FUNASA, apesar de hoje admitir em nota oficial que estava ciente desde 2005 da formação do cartel das empresas de táxi-aéreo de Roraima (principal esquema de corrupção de sua Coordenadoria local denunciado pela URIHI ao MPF desde a sua formação), permitiu mesmo assim que estes contratos fraudulentos continuassem a ser pagos e, pior, que fossem renovados anualmente, parando somente agora com o início da Operação Metástase?

» Ler a nota da FUNASA de 26/10/2007 («  Nota sobre reabertura da Funasa em Roraima, após operação da PF » ): http://www.funasa.gov.br/Web%20Funasa/not/not2007/not398.htm

Jornalistas de investigação e analistas políticos poderão sem dúvida responder melhor do que nós a estas desconfortáveis perguntas.


A Fundação Universidade de Brasília (FUB), não é mencionada na lista de ONGs recentemente compilada pelo Governo através do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi). Aparece nesta lista, entretanto, a Fundação Universitária de Brasília (FUBRA), ONG para a qual a FUB delegou suas atribuições no convênio assinado com a FUNASA, num estranho processo de “terceirização da terceirização” da saúde yanomami.

» Ver a lista de ONGs publicada pelo site Congresso em Foco (a FUBRA é o nº40 da lista por importância financeira dos convênios ):
http://congressoemfoco.ig.com.br/Noticia.aspx?id=19581&codsit=51&codparext=2056



URIHI – Saúde Yanomami – 5/11/2007

urihi@urihi.org.br
 

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Coordenação Editorial: Bruce Albert (Assessor Antropológico CCPY) e Luis Fernando Pereira (Jornalista CCPY)

 

 

 


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