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Notícias CCPY Urgente
Data: 3 - Dezembro - 2007
Titulo: Ameaças contra Davi Kopenawa preocupam associação yanomami
Fonte:
Boletim Pró-Yanomami Nº 90
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Ameaças
contra Davi Kopenawa preocupam associação yanomami
Preocupados
com as supostas ameaças à vida de Davi Kopenawa ( ver Notícias
CCPY Urgente : Instituto Socioambiental – 12/11-2007 – "Davi
Kopenawa é ameaçado de morte por fazendeiro em Roraima"
e Folha
de BV : " Davi Kopenawa denuncia no MPF que foi ameaçado
de morte por fazendeiro ” ), presidente da Hutukara
Associação Yanomami (HAY), os Yanomami elaboraram documento
encaminhado a Deborah Duprat, Subprocuradora Geral da República
( ver
em anexo ). As supostas ameaças teriam vindo de Ermilo Paludo,
proprietário de fazendas que reconhecidamente estão dentro
da Terra Indígena Yanomami (TIY), mais especificamente na região
do Ajarani, próxima aos municípios de Iracema e Caracaraí
(RR), e acessível pela estrada Perimetral Norte (BR-210).
Segundo
depoimentos de alguns Yanomami do Ajarani arregimentados para trabalhos
pesados nas fazendas, Paludo teria dito que mataria o presidente da HAY
e outras pessoas atuantes no indigenismo caso ele fosse retirado de suas
propriedades. Com este documento, os Yanomami fazem um apelo por uma intervenção
que garanta uma saída pacífica e dê fim às
preocupações que a presença de fazendeiros vem originando
na região : " Esses fazendeiros também ajudam
a criar problemas e brigas com os Yanomami. O fazendeiro Ermilo Paludo
está ameaçando as lideranças Yanomami e os brancos
que ajudam o nosso povo. Ele diz para os outros Yanomami que vai mandar
matar as lideranças quando for expulso da terra. Nós Yanomami
queremos saber por que os fazendeiros continuam na nossa terra demarcada,
criando medo e raiva. Nós queremos que as autoridades tomem providências
para a retirada imediata desses invasores, pois já passou muito
tempo”.
Desde
a demarcação da TIY, em 1991, os fazendeiros Ermilo Paludo,
Miguel Schultz, Walter Miranda e seu filho, Walter Miranda Júnior,
reivindicavam a posse da região, também conhecida como Repartimento.
Principal base de sustentação para a reivindicação
dos fazendeiros era o questionamento da tradicionalidade da ocupação
daquelas terras pelos Yanomami com base em título expedidos pelo
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
(Incra). Perderam a primeira ação em 1991, na Justiça
Federal de Roraima, a segunda no TRF da 1ª Região em Brasília
e, por fim, em 2004, quando a 5ª Turma do Tribunal Regional Federal
reconheceu que as terras região do Ajarani pertencem aos índios
Yawaripë, subgrupo Yanomami ( ver
Boletim Pró-Yanomami 49 ). Os efeitos da presença destes
fazendeiros foram potencializados pelas invasões persistentes de
novos agricultores na região, com a conivência de servidores
públicos ( Ver
Yanomami na Imprensa: Folha de BV, 12/10/2004 “Ibama sugere investigações
a invasões” ).
Os
problemas causados pela presença dos fazendeiros na região
já foram denunciados pelos Yanomami em várias ocasiões
( ver Boletins Pró-Yanomami 18,
20,
34,
35,
38,
46,
49,
63 e
83
e Notícias
CCPY Urgente, 16/09/2002 : "Carta dos Yanomami aos presidenciáveis"
), inclusive em recente entrevista com Davi Kopenawa, onde elenca os principais
desafios na TIY hoje ( ver
Boletim Pró-Yanomami 85 ). Como consta no documento da HAY,
além da concorrência e conflito pelo uso de recursos naturais
e da degradação ambiental causada pelo alargamento de pastos
e áreas de plantio, a utilização dos indígenas
como mão-de-obra para serviços pesados nas fazendas tem
favorecido a introdução de hábitos nocivos entre
as famílias indígenas, como o consumo de bebidas alcóolicas,
ora oferecidas pelos não-indígenas, ora obtidas nos municípios
de Iracema e Caracaraí, e incentivado conflitos internos entre
os Yanomami. O alcoolismo já foi apontado como o principal problema
de saúde no Ajarani ( ver
Boletim Pró-Yanomami 18 ).
Davi
Kopenawa já havia enviado uma carta ao Procurador Geral da República
de Roraima, Antonio Morimoto, pedindo providências e garantias devido
às ameaças ( ver Notícias
CCPY Urgente : Instituto Socioambiental – 12/11-2007 – "Davi
Kopenawa é ameaçado de morte por fazendeiro em Roraima"
).
Sobre
o Ajarani: Os Yawaripë, subgrupo Yanomami que habita a região
do Ajarani, começaram a sentir os impactos do encontro com os não-indígenas
em 1973 quando foram contatados pelos trabalhadores da estrada Perimetral
Norte (BR-210), cujo trecho até hoje corta seu território
e serve como porta de entrada para a TIY. Todas as ações realizadas
pela Funai na época foram no sentido de promover o deslocamento da
população da região, liberando a terra para a construção
da estrada e para a colonização. Da aldeia original à
época da chegada dos trabalhadores surgiram grupos fragmentados,
estabelecidos ao longo do traçado da estrada, e outros que vagavam
sem locais fixos. Segundo perícia realizada sobre a região
pela antropóloga Nádia Farage em 1999, “além das epidemias
que grassavam, o contato desordenado trouxera a mendicância, a prostituição
feminina e, com esta última, a ocorrência de doenças
venéreas”. Em 1977 foi criado o Distrito Agropecuário de Roraima,
com área de 600.000 ha , abrangendo parte do território dos
Yawaripë. Mais de cem lotes foram demarcados e distribuídos
com fins de promover a colonização da região através
da instalação de empreendimentos agropecuários. Esses
lotes foram titulados e vendidos, passando às mãos dos atuais
fazendeiros.
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Coordenação Editorial: Bruce
Albert (Assessor Antropológico CCPY) e Luis Fernando Pereira (Jornalista
CCPY)
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