Sobrevôo
realizado no dia 25 de novembro na Terra Indígena Yanomami (TIY)
localizou duas pistas de garimpo próximas à fronteira com
a Venezuela. As duas pistas se encontram próximas à comunidade
yanomami dos Xiroxiropiu teri pë nas cabeceiras do rio Toototobi,
um dos afluentes do rio Demini, que desagua no rio Negro (AM), entre as
regiões do Balawaú e do Tootobi. O vôo foi realizado
por uma missão do VII Comando Aéreo Regional a pedido da
Hutukara Associação Yanomami (HAY), que já havia
realizado uma primeira tentativa de localização no dia 22
de novembro após receber denúncias dos Yanomami residentes
nas duas regiões ( ver abaixo carta da HAY ).
A
primeira denúncia sistematizada veio da região do Balawaú,
através de documento que relaciona os dias, horários e freqüências
dos vôos ( ver abaixo carta denúncia ). Um dos professores
yanomami, após participação em curso de formação
realizado em Boa Vista (RR), teria visto a clareira do acampamento dos
garimpeiros, assim como estruturas com lonas. Informações
sobre ruídos de máquinas e motores também chegaram
à HAY dos moradores da comunidade dos Xiroxiropiu teri pë.
Profissionais que trabalham no atendimento à saúde indígena
na região do Balawaú corroboraram as denúncias e
relataram que pelo menos desde agosto deste ano aeronaves têm realizado
vôos a baixas alturas e em horários não apropriados
para viagens de longas distâncias, geralmente ao cair da tarde e
início da noite.
A
missão de localização se realizou com o apoio do
coronel-aviador José Volkmer, Chefe do Estado Maior do VII Comando
Aéreo Regional (Conar), ligado ao Comando Militar da Amazônia
(CMA). Trata-se da segunda ação do Conar na região
neste mês, respondendo às denúncias da HAY de que
o espaço aéreo brasileiro estava sendo sistematicamente
invadido por aeronaves não-identificadas vindas da Venezuela (
ver
Boletim Pró-Yanomami 88 ). Após uma reunião
com as lideranças do Balawaú e com Davi Kopenawa, o presidente
da HAY no dia 14 de novembro, foram acertados detalhes para uma atuação
mais constante dos militares na região no sentido de prover demandas
dos Yanomami, tais como atendimento médico e odontológico.
Isso ocorreria concomitantemente à vigilância do espaço
aéreo através de viagens periódicas às regiões
do Balawaú, Xitei, Aracá e Marari (AM) na TIY.
Carta
da Hutukara Associação Yanomami em português
Palavras
sobre os garimpeiros que estão em nossa terra-floresta yanomami
O
professor Platão Tixonari viu primeiramente as casas dos garimpeiros
no dia 22/10/2007, foi nesta data que Platão as viu. No dia 18/11/2007,
à 1 hora da manhã, três aviões passaram pelo
rio Mau Paari u.
Esses
três aviões vieram da direção de Manaus. No
dia 22/11/2007, às 9 horas da manhã, passaram novamente
outros dois aviões em direção ao Mau Paariu. Foi
isso que surgiu em nossa terra-floresta, nós da Hutukara Associação
Yanomami vimos os garimpeiros que estão trabalhando.
Eu
acompanhei os militares que foram à região do Balawau para
procurar por doenças.
Nesta
ocasião pedi ao coronel Volkmer, ele já queria nos ajudar,
por isso falei que queríamos procurar pelos garimpeiros que estão
em nossa terra-floresta yanomami. Foi assim que eu disse ao líder
dos militares por isso eu ainda os ajudei. Então nós procuramos
pelos garimpeiros, nos afastamos procurando pelas beiras da fronteira
e vimos a pista no rio Mau Paariu. Em seguida, nós vimos outra
pista.
Por
isso nós Yanomami estamos muito preocupados, há garimpeiros
trabalhando rio acima, o que não é bom.
Acabaram-se
as palavras.
Atenciosamente,
Dário
Vitório Kopenawa Yanomami
Carta
da Hutukara Associação Yanomami em yanomami
Yanomae
yama k i urihi pë hamë garimpeiro pë kuowi thë ã
oni.
Hapa
mahio tëhë Platão Tixonari Professor an i garimpeiro
pë yano pë hapa taarema, dia 22/10/07, thë kuo tëhë
Platão n i garimpeiro pë yano pë taama. 18/11/07, thë
kuo tëhë 1: 00 da manhã mothoka kuo tëhë 3
aviões pë hayukema Mau Paari uhamë.
3
aviões pë kakii Manaus hamë pë huimama, dia 22/11/07,
9:00 da manhã mothoka kuo tëhë 2 aviões kupë
hayua kõkema Mau Paari uhamë, i naha kami yanomae yama k i
urihi pë hamë thë kuprarioma Hutukara Associação
Yanomami thëri yama k i n i garimpeiro pë kiã i wi yama
thë taama.
Balawa
ú uhamë Militar thëri pën i yanomae thëpë
xawara pë taa pehe hamë ya pairioma.
I
h i tëhë Coronel Volkmer Militar a pata mopë hamë
ya nosiamoma, kami yanomae wamarema k i pairipra i pihio hikio yaro kami
yanomae yama k i urihi pëhamë garimpeiro pë kuo pë
hamë yama k i hëtëmuu pihio. I naha pata Militar eha ya
kuma yaro kami ya pairio xoaoma, i h i tëhë garimpeiro yama
pë hët ii xoaoma fronteira a kas i k i hamë yama k i hëtëmuu
kua i xoao huruma, i h i tëhë pista yama a taa xoarema, Mau
Paari u uha, i h i tëhë ai pista yama a taa kõarema.
I naha thë kua yaro kami yanomae yama k i pata xuhurumuu mahi, mau
u orahamë garimpeiro pë kiã i yaro thë totihi proimi.
Thë ã maprarioma.
Carta
denúncia em português
Posto
Yano, 21/11/2007
Sim,
eu mando nosso documento a vocês, lideranças da Funai.
Os
garimpeiros estão trabalhando em nossa terra-floresta, por isso
estamos entristecidos. Por isso nós pedimos a vocês, os garimpeiros
estão se aproximando cada vez mais de nossa terra.
Durante
à noite três aviões passaram, à 1 hora da manhã,
o que nos deixou preocupados. Nós Yanomami enviamos este documento
a vocês, grandes homens da Funai. Vocês devem realmente nos
reter em suas mãos, vocês da Funai.
Sim,
fui eu quem também os viu, no dia 22 de outubro. Era assim que
eles se encontravam: os garimpeiros fizeram uma grande clareira onde se
encontram. Envio este documento para que vocês mandem a polícia,
para que expulsem os garimpeiros e nos retenham em segurança em
suas mãos
Nós
não queremos beber água poluída. Queremos viver uns
ajudando aos outros, inclusive vocês da Funai. Queremos ficar felizes
quando vocês nos tiverem em suas mãos. Por essa razão
enviamos este documento. Os garimpeiros penetraram em nossa terra-floresta,
vocês da Funai devem voltar a expulsa-los. Enviem polícia,
pois os garimpeiros degradam nossa floresta.
Estamos
tristes pois hoje mesmo, às 9 horas da manhã, outro avião
voltou a passar.
Platão
Tixonari Yanomami, professor
Carta
denúncia em yanomami
Posto
Yano, 21/11/2007
Awei,
Funai kami yama k i n i documento yama a xima i kaho pata wa kutaen i
.
Kami
yama k i urihip i ham i garimpeiro pë kia i kuwë yaro kami yama
k i xuhurumou. Kuwë yaro kami yama k i n i wa nosiema i , Yanomam
i yama k i urihip i ham i garimpeiro pë yai ahetou mahia.
Mi
titi 3 avião pë hauykema, 1h00 motoka kuo kuwë yaro yama
k i yai xuhurumoma. Yanomam i yamak i n i hei documento yama a xim i rema
kaho Funai waiha. Wamarek i a yai hurei, kaho Funai wan i .
Awei,
kami yan i ya pë kãi taarema, dia 22 de outubro te kuo tëhë
hapanaha te kuoma, garimpeiro pën i urihi a roxi prauku taa hikipraremahe.
Kuwë yaro documento ya xima i kahowan i polícia wa pë
ximapë wamarek i a yai hurei kahowan i , garimpeiro wa pë yaxumarei.
Mau
yama u xami koa i puhiomi. Kuwë yaro yamak i pairiprayuu puhioma
kaho pata Funai waiha. Funai wamarek i a yai hurei tëhë yamak
i xi toprarou puhio. Kuwë yaro kamiyë yamak i n i hei documento
yama a xim i rema. Garimpeiro pë rukë i yaro kamiyë yamak
i urihip i ham i kaho Funai wan i wa pë yaxu yaparei. Kaho wan i
polícia wa pë xim i rei, Funai Yanomam i yamak i urihip i
waria i yarohe. Kuwë yaro hei mahi tëhë 9:00 am avião
ai a hayua kõkema, kuwë yaro yama k i xuhurumou. »topo
Tradução:
Luis Fernando Pereira