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Notícias CCPY Urgente
Data: 3 - Dezembro - 2007
Titulo: Representantes da Hutukara Associação Yanomami reúnem com lideranças Ye`Kuana
Fonte:
Boletim Pró-Yanomami Nº 90
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Representantes
da Hutukara Associação Yanomami reúnem com lideranças Ye´Kuana
Entre
os dias 14 e 17 de novembro Davi Kopenawa, presidente da HAY, e Mateus Sanuma,
primeiro-secretário, participaram de uma reunião solicitada pelos
índios Ye´kuana na região de Waikas (TIY). Cerca de 25 lideranças
indígenas e quatro representantes de organizações indigenistas
e órgãos públicos como a Fundação Nacional
de Saúde (Funasa) discutiram sobre os objetivos da HAY e as possibilidades
de projetos conjuntos para o futuro. O trecho abaixo foi extraído de
uma entrevista feita pelos gestores da HAY Ivan Xirixina Yanomami, Gilberto
Xirixana Yanomami, Marconi Kariuna Yanomama, Dino Maraxima Yanomae e Atorino
Hokomasiri Yanomami e publicada no primeiro jornal da Hutukara.1. Quando
vocês fizeram a reunião em Waikas, quais foram os assuntos discutidos?
Bem,
foram sobre esses assuntos que nós discutimos, nós falamos sobre
a Hutukara em Waikas. Eu conversei com as lideranças e as avisei sobre
a Hutukara. A hutukara (céu primevo que caiu sobre os antigos) é
o que protege a nossa terra-floresta, a hutukara é o que protege os Yanomami,
é por isso que a associação veio a ter esse nome. Foi assim
que falei a eles. Queremos viver com saúde, por isso a Hutukara surgiu,
por isso tem o nome do que protege nossa terra-floresta, nós não
voltaremos a sofrer, foi o que eu disse. Os Ye´kuana não haviam
feito reunião anteriormente, mas nós da Hutukara escutamos suas
sábias palavras quando entenderam o que dizíamos: “Sim, é
assim que eles fazem reunião, quando fazem reunião eles preservam
a terra-floresta. Por que a preservam?”. Inicialmente eles pensavam assim, mas
nós lhes ensinamos e seu pensamento tornou-se correto.
2.
Quais eram os participantes da reunião?
Em
Waikas se reuniram as lideranças, eu também, os Ye´kuana,
os Sanumá, os moradores do Palimiu, uma mulher não indígena,
que rapidamente retornou à cidade. Nós dissemos: “quando fazemos
reunião em nossa terra-floresta nós nos dirigimos uns aos outros,
se não ensinarmos reciprocamente permaneceremos longamente ignorantes
em relação a alguns assuntos”. Por que eles (do Waikas) ficaram
felizes? Vocês não devem questionar. Eu, Davi Kopenawa, ajudei
a proteger todos os Yanomami, ordenei aos brancos. Na nossa terra-floresta,
em 1986, havia 30.000 garimpeiros. Eles poluíram as águas e levaram
as epidemias, isso que ocorreu e o que falei às lideranças. Por
isso agora vocês devem ficar espertos, só assim os brancos não
voltarão a nos enganar, nem voltarão a roubar nossa terra-floresta.
Por isso é que surgiu o nome Hutukara Associação Yanomami.
São palavras atentas para fazer os brancos retrocederem.
3.
O que foi que as lideranças de Waikas disseram?
Eduardo,
liderança de Waikas, disse da seguinte forma: “Hoje nos aproximamos,
por isso devemos ajudar uns aos outros, enfraqueceremos se nos odiarmos, se
nos reunirmos e discutirmos com outras lideranças assim será bom.
Nós preservamos o sentimento de amizade com Davi, você explicou
sobre o nome da Hutukara, nosso pensamento se endireitou. Quando você
age dessa forma é bom para nós, você viu sobre aqueles que
permanecerão morando em nossas terras após termos partido, o futuro.
Agora finalmente eu entendi, se estivesse sozinho eu não entenderia.
‘Os brancos são bons talvez, talvez eles nos ajudem, talvez sejam amigos',
era o que eu pensava, mas você tornou meu pensamento mais correto”. Foi
isso que as duas lideranças de Waikas disseram.
4.
Os moradores de Waikas não falam Yanomami, como vocês fizeram a
reunião?
Os
moradores de Waikas não entendem nossa língua (Yanomae) mas entendem
o Sanumá, pois moram na mesma terra. Havia dois Sanumá que entendiam
a língua deles e traduziram, eu também traduzi para o português,
para todos eles. “Nesta única reunião, por eu ser representante,
eu me dirijo a vocês, quando nos juntamos em nossa terra-floresta e discutimos
é realmente bom”, foi o que disse a eles que também me questionaram:
“Davi, quem lhe ensinou a ser tão esperto?”. Eu respondi: “Não,
não há quem tenha me ensinado, não há um professor.
Quando cresci tomei sem motivos a língua dos brancos, não estudei
em escolas, apenas acompanhei os brancos aonde iam, foi assim que aprendi a
língua”. Também lhes disse: “Falemos em nossa língua, apesar
de haver muitos outros misturados. Estamos morando em terras aparentadas por
isso devemos ensinar uns aos outros como nos entendermos”.
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Coordenação Editorial: Bruce
Albert (Assessor Antropológico CCPY) e Luis Fernando Pereira (Jornalista
CCPY)
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