Segundo a Associação dos Trabalhores em
Saúde Indígena, de Roraima, o povo Yanomami, população indígena de cerca de
19.000 habitantes que vive na região de fronteira do Brasil com a Venezuela,
está sucumbindo às doenças trazidas pelos garimpeiros e operários que ocuparam
suas terras desde o início da década de 70 quando da construção da Rodovia Perimetral
Norte, seguida da ‘corrida ao ouro’ nos anos 80. O forte impacto epidemiológico,
aliado à baixa resistência imunológica destas populações para certas doenças,
fez diminuir a população em algumas regiões em 22%, como no Vale do Ajarani
e em 50% na região do rio Catrimani.
Dentro das doenças mais constantes está
a malária. Somente do lado brasileiro, onde há registros, foram notificados
27.443 casos nos últimos sete anos, verificando-se neste período uma média anual
do Coeficiente de Incidência de 511 (por mil hab.). Ou seja, o número de casos
de malária por ano é praticamente a metade do número de habitantes. Somente
nos primeiros meses de 1998 registrou-se um total de 4.152 casos de malária,
praticamente igual ao total registrado durante todo o ano de 1997 (4.289), indicando
um aumento de 93,6% em relação ao primeiro semestre do ano anterior.
A constante presença de pessoas não Yanomami
em seu território e o freqüente retorno de pacientes que estiveram internados
na cidade de Boa Vista para tratamento de diversas doenças, têm introduzido
sistematicamente as infecções respiratórias agudas (IRA) comprometendo profundamente
suas atividades de subsistência. A cada epidemia de gripe, cerca de 15% dos
casos evoluem com complicações bacterianas, principalmente a pneumonia, com
alto índice de mortalidade quando não há tratamento médico disponível. Do total
de óbitos de causa conhecida, cerca de 20% são devidos a pneumonia. Apenas no
primeiro semestre de 1998 foram registrados 30 óbitos por esta doença.
As diarréias e a desidratação representam
outro grave problema de saúde para os Yanomami. De 1991 até 97, foram registrados
20.388 casos, ou seja, uma média anual de 2.912 casos. No primeiro semestre
de 1998 foram 2.088 casos, superando a faixa do esperado para apenas um semestre
em 43,4%.
Desde 1991, a média do Coeficiente de Incidência
Anual de tuberculose foi de 584 (em 100.000 habitantes). A média nacional deste
coeficiente é de 50, o que significa que o risco dos Yanomami desenvolverem
a tuberculose é quase 12 vezes superior ao da população brasileira em geral.
Outras doenças responsáveis por grande
número de atendimentos nos últimos anos são as verminoses, as afecções dermatológicas
(micoses, infecções e escabiose), as infecções urinárias, as conjuntivites,
as odontalgias e os ferimentos e traumatismos.
O total de óbitos registrados de 1991 a
1998 (primeiro semestre) foi de 1.211 Yanomami. As principais causa mortis foram:
causa desconhecida (35,1%); malária (23,4%), IRA (13,2%); violência (4,5%);
causas neo-natais (2,6%); diarréias (2%); acidente ofídico (1,8%); tuberculose
(1,5%). Os óbitos de causa desconhecida são aqueles em que não foi possível
determinar a causa da morte devido, na quase maioria das vezes, à ausência de
profissional de saúde.
A média anual do Coeficiente de Mortalidade
Geral nos últimos 7 anos foi de 1.440 (número de óbitos em 100.000 habitantes).
A média deste coeficiente no Brasil é de 600 óbitos em 100.000 habitantes, ou
seja, o risco de morrer para os Yanomami é quase 2,5 vezes maior. Se levarmos
em consideração que não existe assistência aos Yanomami do lado venezuelano,
bem como em parte da Reserva no lado brasileiro, como as regiões do Xiriana,
do Padauaris, de Aracaçá e parcos atendimentos em Tukixim, Olomai, Xicoi e Sigaima,
a ausência de notificações pode indicar uma situação ainda mais crítica.
Existe uma indefinição
legal sobre a responsabilidade institucional da saúde indígena no país, onde
as atividades de assistência primária são responsabilidade da Funai e atividades
de controle de endemias, imunização, educação em saúde, desenvolvimento comunitário
e treinamento de agentes indígenas são obrigações da FNS (Fundação Nacional
de Saúde). Em Roraima, há choques de ações entre servidores dos dois órgãos,
perpetuando uma disputa pela responsabilidade e, ao mesmo tempo, impedido
uma maior integração interinstitucional. Hoje, oito instituições (seis não-governamentais)
se ocupam da Área Yanomami, das quais o Distrito Sanitário Yanomami (DSY),
parte integrante da FNS, tem o papel mais importante, cuidando de 13 dos 24
‘pólos-base’ de atendimento. (ISA, 23/11/98)