Na avaliação do deputado
estadual Gelb Pereira (PDT), os episódios vistos no Município do Uiramutã, que
culminaram com a detenção do fotógrafo francês Antoine Juarez – por índios contrários
ao CIR – e da prisão de jovens que faziam trilha na região, por aliados do CIR,
fazem parte de uma estratégia das Ongs para espalhar a discórdia entre índios
e não-índios.
Ele disse que, como na
maioria dos demais estados brasileiros, os estrangeiros têm facilidade em transitar
pelo país, até em áreas restritas aos nativos. Cita como exemplo a organização
de seqüestradores e o poder que têm através das Organizações não-governamentais
(Ongs) sobre as áreas indígenas.
“Estrangeiros entram com
facilidade tanto na Raposa/Serra do Sol quanto na Yanomami. Soltaram o jornalista
francês e seus equipamentos porque a Funai está a serviço de Ongs internacionais.
No meu ponto de vista, isso visa a divisão da sociedade. A nossa sorte é que
o povo brasileiro é manso. Se de repente alguém proibisse o Jacir (coordenador
do CIR) de andar fora da área Raposa/Serra do Sol, estaria criado o clima de
divisão entre a sociedade índia e não-índia”, argumentou o deputado estadual.
De acordo com Gelb Pereira,
além da demarcação de áreas indígenas, o país perdeu o controle sobre outras
questões. Disse que a violência grassa de ponta a ponta, as Ongs ganharam mais
importância que os poderes constituídos, principalmente na Amazônia, decorrendo
daí o descontrole.
“Não se entende como a
Funai, um órgão de terceiro escalão, tem poderes para demarcar 4 milhões e 500
mil hectares no Planalto Goiano e no Pico da Neblina. Por trás dos movimentos
indígenas por demarcação de terras estão as Ongs, interessadas em criar a divergência
e evitar nosso desenvolvimento”, frisou.
“A saída seria mudar a
Constituição, retirando poderes da Funai e passando para o Congresso Nacional.
Se não for assim, perderemos o sentimento de cidadão e podem prosperar movimentos
radicais para se contrapor a estas ações que vêm sendo praticadas com o consentimento
do Governo Federal”, complementou Pereira.
Governo quer esclarecer
prisões feitas em Uiramutã
Quando algum não-índio
morador do Uiramutã vê um estrangeiro, pensa que ele está trabalhando para expulsá-lo
de lá. Assim entende o governador Neudo Campos (PFL) sobre os episódios que
culminaram com a prisão de um fotógrafo francês e de três jovens brasileiros
que faziam trilha de Jeep nas proximidades de uma maloca.
“Vamos esclarecer os fatos
e não há absolutamente nada contra qualquer comunidade indígena. Pode ter havido
um desentendimento. Eu não sei nem que é este francês. Com relação aos brasileiros,
para mim isso faz parte da política de criar o clima de confronto, arma que
favorece aqueles que querem demarcar a área de forma contínua. Eles criam este
clima exatamente para dizer que é impossível a convivência entre índios e não-índios.
Como os índios não podem ser retirados, os não-índios terão que sair”.
Para se resolver a questão
das áreas indígenas, o governador acredita que só se for levada a discussão
ao Congresso Nacional. “Nós temos constatado que no Governo Federal, a quem
compete fazer a demarcação das reservas, tem entidades favoráveis à demarcação
de forma contínua, e outras que não querem desta forma. Por conta desta luta
a questão fica indefinida e esta indefinição é uma espada pendente sobre o desenvolvimento
de Roraima”, avaliou.
Neudo Campos destacou que
no Congresso existem representantes de todos os segmentos da sociedade tornando
o debate democrático. “Lá, poderia também ser questionado se um Estado pode
ter para 7% de sua população 60% das suas terras. Ou por que todos os anos a
Funai apresenta mais áreas para serem demarcadas, quando a população indígena
não cresce na mesma proporção? No Congresso seria debatida a área contínua ou
não e o problema, definido”.
INCRA – Com relação
aos 10 milhões 826 mil hectares cadastrados em nome do Estado e sobre os quais
existe uma ação do Incra contra o ato, Neudo Campos informou que a defesa foi
feita e espera-se o pronunciamento da Justiça.
“Enquanto isso, continuamos
a manter contatos com o Incra para resolvermos outros assuntos, mas estamos
otimistas quanto à possibilidade de vencermos a ação, porque ela é justa. Afinal,
Roraima é o único Estado da Federação que não tem suas terras. Pela Constituição
de 1988, tudo seria feito nos mesmos moldes de Rondônia. E por que Rondônia
tem suas terras, e Roraima não?”, questionou o governador.