A continuidade do trabalho de assistência à saúde
dos Yanomami está garantida para o ano de 2002 (ver Boletim Yanomami 22). A
renovação do convênio põe fim a uma crise ocorrida nos dois primeiros meses
deste ano, quando as negociações entre a Urihi e a Fundação Nacional de Saúde
(Funasa) chegaram a um impasse de tal ordem que quase levou ao encerramento
das atividades de assistência de saúde junto aos Yanomami.
A Funasa e a Urihi-Saúde Yanomami assinaram a renovação
do convênio, publicada no Diário Oficial da União no dia 15 de março, assegurando
R$ 7,1 milhões para o atendimento aos Yanomami. Em todo o país, o orçamento
para a assistência à saúde dos povos indígenas chega a R$ 190 milhões, que serão
divididos entre as organizações não-governamentais, associações indígenas, prefeituras
e outros organismos que atuam no setor.
Os novos recursos disponíveis para a Urihi representam
um acréscimo em torno de 10%, se comparados a 2001. Do total de R$ 7,1 milhões,
R$ 6,8 milhões serão destinados à atenção básica. A diferença será coberta pelo
Vigisus (programa do governo federal com o Banco Mundial) para a compra de equipamentos,
controle social (participação dos Yanomami no Conselho Distrital) e capacitação
profissional.
A direção da Funasa, no entanto, insiste em fixar
limites salariais para algumas funções técnicas existentes nas equipes de saúde,
uma vez que os salários pagos desde 1999 foram estabelecidos acima da tabela
proposta pela instituição. Mas, de imediato, foi afastada a exigência de demissão
de todos os técnicos com salários acima da nova tabela e a subseqüente abertura
de novas contratações. Essa exigência inicial esbarrava em problemas operacionais
e até mesmo de ordem legal. Além do elevado custo financeiro decorrente das
indenizações trabalhistas que teriam de ser pagas, a proposta defendida pela
Funasa implicava perda de mão-de-obra qualificada e também de investimentos
realizados em anos anteriores na capacitação dos agentes de saúde que atuam
entre os Yanomami.
A Funasa entendeu as dificuldades criadas por sua
política salarial para a estabilidade e qualidade do atendimento à saúde indígena
e propôs a criação de um grupo de trabalho (GT), formado por técnicos das ONGs,
para estudar uma tabela de salários que contemple as diferentes variáveis regionais
implícitas na assistência à saúde dos povos indígenas. A decisão saiu de uma
reunião com a participação do presidente da Funasa, Mauro Ricardo, o vice-presidente,
George Tormin, e representantes da Urihi, Coaib (Coordenação das Organizações
Indígenas da Amazônia Brasileira), Foirn (Federação das Organizações Indígenas
do Alto Rio Negro) e CIR (Conselho Indígena de Roraima).
O grupo terá 60 dias para concluir o estudo e formular
uma proposta à Funasa. Na avaliação do administrador da Urihi, Luis Eustórgio
Pinheiro Borges, será preciso levar em consideração os vários elementos que
compõem o cenário em que ocorre a atividade de assistência à saúde indígena,
tais como grau de dificuldade imposta aos profissionais, distância da área indígena
ao centro urbano, condições de trabalho, entre outros fatores.
Para garantir uma contribuição mais efetiva à tarefa
dada ao GT, a Urihi adiantou que pretende fazer um levantamento sócio-econômico
nas áreas onde a Funasa mantém programas de saúde indígena, o que contribuirá
para a formulação da proposta a ser encaminhada à direção da Funasa. Hoje, metade
do pessoal de nível médio (auxiliares de enfermagem e microscopistas) da Urihi
está enquadrada na tabela da Funasa, ou seja, ganha R$ 1 mil, o teto salarial
fixado pela instituição.
A Funasa está avaliando ainda a possibilidade de estabelecer
uma nova modalidade de contrato com as organizações que atendem às populações
indígenas, com o objetivo de eliminar o intervalo que a cada ano separa o repasse
de recursos de um convênio para outro. Atrasos nos repasses podem ter consequências
desastrosas. Foi precisamente o que ocorreu no último mês de janeiro, quando
por falta de recursos para pagar vôos de helicóptero, a Urihi não teve condições
de atender a algumas comunidades. O resultado foi um óbito na região de Auaurís
e quatro na região de Surucucus. A fundação já está mantendo contato com o Ministério
da Justiça para obter mais informações sobre as parcerias existentes com as
Organizações Sociais Coletivas de Interesse Público (Oscip). A finalidade é
avaliar se as ONGs envolvidas no atendimento à saúde indígena podem ser enquadradas
na condição de Oscips, permitindo um acordo de longo prazo - contrato de gestão
-, o que atenderia ao interesse da Fundação de trabalhar rumo à formalização
de um sistema de saúde para os povos indígenas. Embora os estudos estejam começando,
na avaliação de Urihi, a medida seria bastante positiva para a consolidação
de um sistema de saúde indígena.