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Notícias CCPY Urgente
Data: 30 - Abril - 2000
Titulo: Cronologia da Marcha “Brasil outros 500”
Fonte:
CCPY - Comissão Pró-Yanomami, Boletim 2
Abril
Primeira semana
- Saída das lideranças das aldeias.
Representantes indígenas da região Norte encontraram-se em Manaus(AM), onde
realizaram a primeira passeata de protesto contra as comemorações dos 500 anos
de descobrimento do Brasil.
10 a 17 – Destruição do monumento em
protesto às comemorações dos 500 anos do descobrimento do Brasil, que estava
sendo construído pelos índios Patoxó em Coroa Vermelha pela Polícia Militar
bahiana. O presidente da Funai, Carlos Frederico Marés, criticou o ato da polícia.
13 a 16 - As caravanas vindas de todas as regiões
do país chegaram a Brasília, onde uma comitiva de lideranças indígenas se encontrou
com a presidência do Senado e da Câmara dos Deputados. A passagem das lideranças
indígenas por Brasília teve como objetivo principal pressionar o Congresso
Nacional a recolocar em votação o Estatuto das Populações Indígenas, que
teve sua tramitação paralisada desde 1994, início do primeiro mandato do governo
FHC. O presidente da Câmara, Michel Temer se comprometeu em apoiar a aprovação
do requerimento. Momentos de tensão marcaram o encontro, especialmente quando
o senador Antônio Carlos Magalhães foi ameaçado com uma flecha em sua barriga
por uma das lideranças – Henrique Suruí- que questionava a ação do Parlamento na defesa
dos povos indígenas. Em seguida, a mesma comitiva teve audiência com o presidente
Fernando Henrique Cardoso que, além do pouco caso, não foi capaz de dar respostas
concretas às demandas das lideranças presentes. O líder Davi Kopenawa estava
nessa comitiva, representando os Yanomami. Ele reivindicou junto ao presidente que o governo
se responsabilizasse pela manutenção dos limites e pela proteção da terra Yanomami
da ação dos invasores e garimpeiros - apesar de estar demarcada e homologada
desde 1992. FHC respondeu literalmente: “os limites da área yanomami não serão alterados. Isto é
fato consumado”.
17 a 21 – As caravanas seguem para Porto Seguro. No período de 18
a 21, mais de dois mil representantes de 185 povos indígenas de todo o país
se reúnem em Coroa Vermelha, no município Santa Cruz de Cabrália, para discutir
a demarcação de seus territórios tradicionais, na Conferência Indígena 2000.
Segundo dados do Cimi-Conselho Indigenista Missionário, das 739 terras indígenas,
apenas 231 concluíram o procedimento de demarcação e, muitas delas, continuam
invadidas. Veja principais reivindicações dos índios no box.
Dia 22/4 - Este deveria
ter sido um dia de protestos pacíficos por parte dos representantes dos povos
indígenas e do Movimento de Resistência Indígena, Negra e Popular “Brasil Outros
500”. A ação da polícia transformou o evento em uma grande demonstração de repressão
e violência amplamente divulgada pela mídia. As próprias autoridades presentes
ao evento ficaram constrangidas, entre elas o presidente Fernando Henrique Cardoso,
que não participou das festividades programadas para Coroa Vermelha.A passeada
prevista para o encerramento do encontro, com cerca de dois mil índios foi barrada
na entrada da cidade de Porto Seguro pela Polícia Militar baiana, por ordem
da presidência da República. A mesma passeata havia sido liberada pelos militares,
mas em seguida os policiais do batalhão de choque avançaram sobre a multidão
entoando gritos de guerra, pisando forte e atirando contra o grupo. Foram atiradas
bombas de gás lacrimogênico, bombas de efeito moral e balas de borracha. O saldo
dessa operação: sete índios feridos e repercussão internacional dos fatos ocorridos.
Um índio Xukuru Kariri teve as duas pernas queimadas.Trinta missionários foram
detidos e a Fundação Nacional de Saúde calcula ter atendido mais de 30 pessoas
com ferimentos leves e sintomas de envenenamento. O presidente da Funai, Carlos
Frederico Marés, anunciou que pediria demissão do cargo na segunda-feira, dia
24, em Brasília.
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Coordenação Editorial:
Bruce Albert (Assessor Antropológico CCPY) e Luis Fernando Pereira (Jornalista CCPY)
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