Depois
de várias matérias publicadas na imprensa, durante as últimas semanas de
setembro, sobre o aumento do número de
garimpeiros na Terra Indígena Yanomami e das cinco mortes registradas este ano devido
a conflitos entre indígenas e garimpeiros, a Funai decidiu fazer um
levantamento da atual situação a fim de elaborar um plano para a desintrusão
completa da área nos próximos dias.
A morte
de quatro indígenas e de um garimpeiro foi oficialmente comunicada ao
presidente da Funai, Glênio da Costa Álvares, por meio de carta assinada pelo
líder Davi Kopenawa Yanomami e mais 78 indígenas, redigida durante reunião realizada em Koni u (a 20 km a nordeste
do posto de Surucucus), no dia 14.06.00. Nessa carta eles solicitaram a
desintrusão urgente da área com a ajuda da Polícia Federal, antes que o número
de garimpeiros aumente ainda mais. Os Yanomami estimam que cerca de 2 mil
garimpeiros estão em suas terras. Para a Funai, conforme foi publicado nos
jornais, a estimativa é de quinhentos a mil garimpeiros em atividade nas terras
Yanomami.
Outra
conseqüência decorrente dos conflitos e mortes ocorridas foi a iniciativa do
NISI (RR) - Núcleo Interinstitucional de Saúde Indígena do Estado de Roraima -
composto por seis organizações não governamentais que desenvolvem projetos e
programas de saúde junto aos povos indígenas - de dar entrar com ação junto ao
Ministério Público denunciando as invasões das terras Yanomami.
CCPY e
FUNAI reuniram-se para tratar das invasões,
conflitos e mortes
A CCPY
reuniu-se, no dia 25/4, com o
presidente da Funai para tratar das invasões das terras Yanomami pelos
garimpeiros e solicitar a desintrusão da área. Se não forem tomadas
providências urgentes, existe um enorme risco de ocorrer uma nova tragédia como
o Massacre de Haximu, em 1993, quando foram assassinados dezesseis índios.
O
diretor de assistência da Funai, Dinarte Nobre Madeiro, foi encarregado pelo
presidente do órgão para conduzir a operação de desintrusão da área. Madeiro
sobrevoou as terras Yanomami na semana passada e vai propor a operação ao
Ministério da Justiça, com a ajuda da Polícia Federal, operação essa que, para
ser viabilizada, necessita da liberação pelo Governo Federal de recursos
específicos.
Pela
terceira vez.....
Esta será
a terceira operação de desintrusão realizada em terras Yanomami desde a sua
demarcação em 1992. A primeira foi deflagrada no início dos anos 90, conhecida
como Operação Selva Livre, e que resultou na retirada de mais de 2000 garimpeiros
da área. A segunda operação ocorreu no período de novembro/97 a janeiro/98,
quando 750 garimpeiros foram removidos. Funai, Polícia Federal, Exército,
Força Aérea Brasileira, Ibama, Ministério das Relações Exteriores e Procuradoria
da República trabalharam juntos e a operação custou cerca de US$ 6 milhões.
Admitiu-se, na época, que cerca de 200 garimpeiros continuaram na área depois
de encerrada a operação.
Atualmente,
os garimpeiros concentram-se na região do Surucucus. Apesar da presença aí de
um dos postos do Sivam, a reincidência garimpeira vem sendo observada
desde o final de 1999. Em Parafuri, ao
norte de Surucucus, por exemplo, o garimpo está situado a uma hora de caminhada
do posto da Funai e é abastecido por avião monomotor que aterriza na pista
“Majestade”, segundo relatórios das entidades que trabalham na região. Esta pista nunca chegou a ser desativada
pela última operação de desintrusão e, no momento, encontra-se em pleno
funcionamento, segundo informações dos profissionais que trabalham na área.
“A
operação de desintrusão vai ajudar a resolver o problema das invasões de
garimpo, porém as terras Yanomami precisam mesmo é de um Plano de Vigilância
Permanente, como já foi sugerido à Funai, que se comprometeu a elaborá-lo”, declara Fernando Bittencourt, diretor da
CCPY. Espera-se que a liberação de recursos federais para viabilizar a
operação seja rápida, sem provocar atraso no início dos trabalhos e
deslocamento das equipes dos vários órgãos federais que atuarão juntos.
A
expectativa do povo Yanomami é que todos os garimpeiros sejam realmente
removidos e desestimulados a reinvadir suas terras depois da conclusão da
operação, ao contrário do que tem
acontecido até agora.