Entre os
principais problemas relacionados à questão do atendimento
de saúde levantados pelos Yanomami da região do Maturacá
(AM), destacam-se os constantes atrasos no repasse de verbas por parte
da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) à conveniada
Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Sanitário (IBDS). Somente
no ano passado, os serviços prestados pelo IBDS foram paralisados
por cerca de quatro meses em duas ocasiões por falta de recursos,
sendo que na última (novembro de 2005) a ausência de profissionais
de saúde em área acarretou a morte de uma criança
de um mês de idade com infecção respiratória
(Ver
Boletim 72).
Em 2006
a situação se repetiu. A Funasa, alegando problemas na prestação
de contas do IBDS, atrasou novamente em quatro meses o envio de verbas.
Os constantes casos de Infecção Respiratória Aguda
(IRA) entre as crianças nesta época do ano levaram à
rápida diminuição do já reduzido estoque de
medicamentos que não pôde ser reposto a contento pela falta
de dinheiro. Os profissionais, com salários atrasados, já
previam nova interrupção no atendimento caso a situação
não fosse resolvida em breve.
Os Yanomami
se sentem ultrajados por esta situação. Segundo Francisco
Xavier da Silva Figueiredo, agente de saúde yanomami há
10 anos, a Funasa e o Governo Federal não cumprem seus papéis:
“A Funasa, que quer trabalhar sozinha com a saúde (sem o
apoio de outras instituições) não cumpre seu papel.
Só ficam discutindo na cidade, girando a cadeira e tomando cafezinho.
O pessoal da Funasa diz que o atraso de verbas se dá por causa
do não envio da prestação de contas, mas essas são
palavras estranhas para nós. Como podem falar que estão
preocupados com a saúde se deixam nossas crianças adoecerem
e morrerem? Nós acompanhamos o envio da prestação
de contas do IBDS, deve estar na gaveta de alguém em Brasília.
Dinheiro, eles têm, vontade não”.
Segundo
Xavier, o mesmo argumento não é utilizado no trato com a
Fundação Universidade de Brasília (FUB) que presta
assistência aos Yanomami de Roraima, cujas contas não foram
aprovadas, mas teve o convênio ampliado. De acordo com matéria
publicada pelo jornal Estado de São Paulo (O Estado de SP, 21/02/2006),
a Funasa manteve em dia a programação para repasses para
o convênio com a FUB, desrespeitando normas da Secretaria do Tesouro
Nacional. Um processo foi aberto no Tribunal de Contas da União
para apurar suspeitas de irregularidades no contrato a pedido da Procuradoria
Geral da República.
Durante
as interrupções no atendimento na região de Maturacá,
os agentes de saúde yanomami tentaram manter a continuidade ao
acompanhamento dos pacientes. No caso citado da criança atingida
por IRA, tentaram contato via rádiofonia para consulta à
distância. Uma solução encontrada para a falta de
medicamentos tem sido a fabricação de xaropes caseiros para
gripe e tosse, incentivada por membros da Pastoral da Criança.
Segundo
Francisco Xavier, as IRAs e a tuberculose são uma grande fonte
de preocupação na área: “Nossos principais
problemas são essas doenças do peito, as que deixam a respiração
cansada, como pneumonia e o aumento do número de casos de tuberculose.
Não temos nenhum remédio para tuberculose. Falta xarope,
amoxacilina, não temos quase nada para curar em nossa farmácia”.
Além
da falta de medicamentos, não existem nesta região do DSY
equipamentos, como os de raios-x e de odontologia, e materiais necessários
para o atendimento e trabalhos de prevenção de doenças
como a diarréia.