Yanomami dos dois lados da fronteira entre Brasil e Venezuela se encontraram durante os dias 27 de agosto e 12 de setembro. Representantes da Associação Wataniba, organização que trabalha pela defesa dos direitos indígenas na Venezuela, Hutukara Associação Yanomami (HAY) e CCPY realizaram o primeiro grande encontro entre entidades representativas dos Yanomami e de grupos de apoio na comunidade dos Watorik i teri pë , Demini (AM) e em Boa Vista (RR). Os representantes da Wataniba estiveram no Demini durante quatro dias, onde estabeleceram um diálogo produtivo com os líderes locais, em especial com Davi Kopenawa, presidente da HAY. Durante duas noites e manhãs consecutivas, os Yanomami do Brasil e da Venezuela trocaram informações e impressões importantes sobre a situação das comunidades em ambos os lados da fronteira, através das falas ritualizadas patamou .

Esse encontro, parte do projeto Pacote Amazônico financiado pela Rain Forest Foundation da Noruega, que tem como objetivo a articulação de ações socioambientais entre populações indígenas, teve como um dos objetivos oferecer elementos que possibilitem aprofundamento do conhecimento das diversas situações nas quais os Yanomami do Brasil e Venezuela se encontram. Assim, parte das atividades do encontro se voltou para apresentações mútuas, nas quais os representantes das organizações participantes descreveram problemas relativos à vigilância da fronteira, implantação de um sistema de educação diferenciado e controle social do atendimento à saúde. Sobre este último tema, representantes da região de Auaris, no Brasil, expressaram preocupação com o crescimento do número de Yanomami da Venezuela que para lá seguem em busca de atendimento médico.

Outro ponto mencionado foi a questão das atividades do exército venezuelano em área de fronteira. Os moradores da região do Xitei, próxima à Venezuela, mostraram que continuam preocupados com a recente invasão do espaço aéreo brasileiro por helicópteros da Força Armada Venezuelana ( Ver Boletim Pró-Yanomami 88 ). Essa preocupação, segundo o antropólogo José Antonio Kelly, que acompanhava os representantes da Wataniba é de suma importância, pois «chama particularmente a atenção a altíssima consciência dos representantes yanomami de, não somente da importância da vigilância e defesa de seu território, como também da vigilância do território nos limites da soberania nacional. Essa sinergia entre o interesse pela integridade do território yanomami assim como pelo brasileiro mostra um importante indício de como os mesmos indígenas são as melhores garantias do território fronteiriço».