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Assembléia da AYRCA proíbe retirada de madeira de suas terras

Yanomami participam de encontro de povos indígenas no Acre
CCPY inicia trabalhos de assessoria educacional em Auaris
Professores yanomami participam de nova etapa de intercâmbio na terra Macuxi
Davi Kopenawa cobra de Secretário de Educação de RR mais agilidade no processo de reconhecimento das escolas Yanomami

Assembléia da AYRCA proíbe retirada de madeira de suas terras

Durante a sua última assembléia em Maturacá (AM), de 25 a 27 de julho, lideranças da Associação Yanomami do Rio Cauaburis e Afluentes (AYRCA) proibiram a retirada de madeira de suas terras pelos missionários Salesianos. Segundo os líderes, a madeira era levada, processada e revendida aos próprios Yanomami por um missionário da Inspetoria Salesiana do Amazonas que atua na região desde 1955. A partir desta decisão, a AYRCA se tornará a única responsável pela comercialização da madeira, caso os religiosos desejem adquiri-la.

De acordo com o missionário Raimundo Fernando dos Santos Araújo, diretor da escola da Missão Maturacá, apesar de a prática de troca de produtos existir em regime de cantina, a extração da madeira não tinha fins comerciais. O missionário ressalta, no entanto, que “de fato, há uma situação controversa, que pode escapar do nosso controle, mas a questão é não generalizar dessa forma. São os próprios Yanomami que trazem os produtos pedindo para fazer as trocas. Nós estamos fechando a despensa (cantina) por causa dessa situação, por ordem de superior nosso. Eles pedem que não acabem, pois não têm onde comprar, onde trocar. Temos até grande prejuízo em manter a despensa, de três mil reais, porque alguns objetos de troca não têm retorno, como bananas. O que dá retorno é só o artesanato, o restante não”, afirmou Raimundo Fernando de Araújo.

Mais de 300 Yanomami participantes da assembléia ajudaram a escolher a nova diretoria da associação, reelegendo como presidente o Yanomami Armindo Góes Melo, juntamente com José Mario Pereira Góes (vice-presidente), Ruberval Figueredo Mendonça (secretário) e Severo Braulino de Braga (tesoureiro). O evento contou com a presença do presidente da Hutukara Associação Yanomami, Davi Kopenawa, e do coordenador do programa agroflorestal da Comissão Pró-Yanomami, Ednelson Pereira, entre outros representantes de instituições governamentais e não-governamentais.

Além da questão da exploração de madeira, a criação e manutenção de projetos educacionais foi um dos principais tópicos levantados durante a assembléia. Um dos objetivos da nova diretoria é, assim, solicitar à Secretaria Municipal de Educação de São Gabriel da Cachoeira a implantação da primeira série do ensino fundamental nas comunidades de Ariabu e Maturacá. A ampliação do espaço físico da escola da comunidade de Maia, que não comporta mais todas as crianças em idade escolar, e o início do funcionamento da escola em Inambu, já construída, também foram reivindicados como ações prioritárias. > subir


Yanomami participam de encontro de povos indígenas no Acre

Davi Kopenawa, Presidente da Hutukara Associação Yanomami, o professor Dário Vitório e o agente agroflorestal Dimas Yanomami participaram de encontro que reuniu representantes de 14 associações indígenas da Amazônia para trocar experiências e discutir projetos de cunho educacional, sócio-ambiental e político. Além dos Yanomami, estiveram presentes membros das seguintes etnias: Kaiabi, Suya e Txicão (Xingu); Krikati, Gavião e Krahó (Maranhão e Tocantins); Terena (Mato Grosso do Sul); Karipuna e Waiãpi (Amapá); Baniwa e Tuyuca (Amazonas); e Ashaninka, Yananawa, Kaxinawa e Arara (Acre). O evento ocorreu no Centro de Formação dos Povos da Floresta da Comissão Pró-Índio do Acre (CPI/AC), em Rio Branco. Também participaram representantes de organizações como o Instituto Sócio-Ambiental (ISA), o Centro de Trabalho Indigenista (CTI), Iepé - Instituto de Pesquisa e Formação em Educação Indígena e a CCPY.

Os Yanomami tiveram a oportunidade de apresentar suas experiências com educação, projeto agroflorestal e a criação da Hutukara Associação Yanomami. Segundo o coordenador do programa agroflorestal da CCPY, Ednelson Pereira, também presente, os discursos de Davi foram referência para todas as discussões.

O encontro foi dividido em quatro partes, organizadas em torno de eixos temáticos: o primeiro, educação indígena, discutidas em uma mesa redonda , abordou conhecimentos nativos e novas demandas; o segundo focalizou experiências nas áreas agroflorestal e de meio-ambiente, além de estratégias indígenas e políticas públicas; o terceiro apresentou problemas e projetos relacionados ao entorno das terras indígenas sob o tema “Estratégias indígenas, políticas de entorno e políticas transfronteiriças”; o quarto e último eixo temático girou em torno da gestão de recursos sob o título “Subsistência e dinheiro e o papel das organizações indígenas na atualidade”. > subir


CCPY inicia trabalhos de assessoria educacional em Auaris (RR)

Atendendo às reivindicações dos Sanumá (Yanomami setentrionais da região de Auaris, RR) , a CCPY iniciou em agosto os trabalhos de acompanhamento e apoio às escolas indígenas da área. Há tempo as escolas sanumá solicitavam assessoria e material escolar que não eram fornecidos desde a saída da Urihi – Saúde Yanomami em julho de 2004, apesar de os professores e lideranças terem expressado reiteradamente no Conselho do Distrito Sanitário Yanomami suas preocupações quanto à continuidade do trabalho de educação nas suas aldeias.

A coordenadora do programa de educação intercultural da CCPY, Lídia Montanha Castro, e a assessora Clarisse do Carmo Jabur, estiveram recentemente na região para a primeira reunião que congregou cerca de 40 Sanumá,além de representantes da Missão Evangélica da Amazônia (Meva), da Fundação Nacional do Índio (Funai), da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e do 5º Pelotão Especial de Fronteira sediado em Auaris.

Baseados nas experiências anteriores que tiveram com a escola, interrompidas primeiro pela Meva (instalada em Auaris desde 1965), e depois pela Urihi em 2004, os presentes reivindicação, principalmente, a organização de um modelo de escola que possa funcionar independentemente da presença dos serenapë tëpë (“brancos”).

Pela política de atuação do seu Programa de Educação Intercultural (PEI), a CCPY não pretende assumir a gestão direta das escolas de Auaris. Ao invés disso, serão feitos todos os esforços para incluir os Sanumá no seu programa de formação de professores yanomami, já em sua quinta etapa, e de apoiar suas negociações com a Secretaria de Educação, Cultura e Desportos do Estado de Roraima (SECD), responsável pela manutenção das atividades escolares e envio de material.

São 12 os professores sanumá de Auaris que atendem a seis escolas nas comunidades de Auaris, Katonau, Katimani, Kalisi, Polapiu e Mausia. Alguns desses educadores indígenas iniciaram sua atuação quando a Urihi – Saúde Yanomami (de 2000 a 2004) atuava na área. Impressionou o alto grau de interesse demonstrado pelos Sanumá pela retomada das suas escolas e o seu esforço para criar as condições necessárias para isso, desde a solicitação de apoio oo Exército, à avaliação e projeto de manutenção dos espaços onde serão ministradas as aulas. “Os Sanöma demonstraram muita disposição em encarar o governo estadual e a sua burocracia para manter as escolas em funcionamento. Eles até se anteciparam e pediram apoio ao exército no transporte dos materiais e da alimentação escolar”, observou Lídia Montanha de Castro, Coordenadora do PEI. Apresentamos a seguir a carta redigida pelos Sanumá.

Auaris, 25 de agosto de 2005.

Aqui, nesta terra, a URIHI fez escola, mas ela acabou. Quando acabou, nós fiamos muito tristes.

Depois nós chamamos a CCPY e ela chegou. No dia seguinte ao que ela chegou, nós fizemos uma reunião.

Quando nós fizemos a reunião, convidamos todas as comunidades da região: Auaris, Katonau, Kulapoupuu, Matoola, Mauxinha, Katimani, Koluluu, Õkopiuko, Polapiu, Kalisi, Hokolasimupuu. Foram todas essas comunidades que nós chamamos. Também convidamos a MEVA, a FUNAI, a FUNASA e o Exército para participarem da reunião.

Então, foi assim que nós falamos. No ano de 2003, três escolas entraram no censo. Portanto, hoje, no ano de 2005, nós queremos material escolar e merenda para os alunos. Eles não comerão o dia todo, somente às 12:00.

Nós, sanöma, não temos avião e por isso já pedimos apoio ao Exército para enviar o material escolar e merenda no seu avião. “Sim, nós vamos ajudar vocês”, foi assim que o Tenente Comandante Marcat (do 7º Batalhão de Infantaria de Selva) disse.

Queremos também que as escolas do Kalisis, Polapiu e Mauxinha sejam inseridas, em seguida, no censo de 2006. É assim que nós estamos dizendo. > subir



Professores yanomami participam de nova etapa de intercâmbio em área Macuxi

A CCPY promove atualmente mais uma fase do seu curso de intercâmbio lingüístico e cultural para professores yanomami. O projeto de enviar jovens yanomami às comunidades Macuxi, com o objetivo de aperfeiçoar seus conhecimentos em língua portuguesa e aprofundar a compreensão da realidade sócio-política da questão indígena no estado de Roraima, começou em abril de 2002, (ver Boletim CCPY 29).

O intercâmbio, que faz parte do processo de formação para o magistério indígena da CCPY, surgiu de discussões e demandas dos próprios professores yanomami que consideraram essa experiência de imersão como o único método que lhes permitiria desenvolver fluência na fala em português. Até então, os cursos restringiam-se à leitura e escrita da língua.

Além de desenvolver o domínio da língua portuguesa, evidente com a participação cada vez maior dos Yanomami em reuniões e eventos na cidade, o modelo mostrou-se eficaz pelo progressivo aumento de participantes nas últimas fases do intercâmbio. Participaram professores de todas as regiões atendidas pela CCPY (Demini, Toototopi, Parawau, Homoxi, Alto Catrimani, Paapiu, Kayanau e Homoxi), além dos oriundos de outras áreas, como Surucucus, Auaris e Baixo Catrimani (ver Boletim CCPY 42).

No dia 19 de setembro, sete professores Yanomami foram para São Marcos. Os cinco do Paapiu, e os dois do Kayanau deverão permanecer até o dia 30 de outubro na área Makuxi, quando irão para Boa Vista participar do sexto curso de formação de professores Yanomami promovido pela CCPY.

O intercâmbio é realizado com o apoio da Organização de Professores Indígenas de Roraima (OPIR), do Conselho Indígena de Roraima (CIR) e da Fundação Nacional do Índio (Funai). > subir



Davi Kopenawa cobra de Secretário de Educação de RR mais agilidade no processo de reconhecimento das escolas yanomami

Davi Kopenawa, presidente da Hutukara Associação Yanomami, participou no dia 19 de setembro de uma reunião em Boa Vista com o Secretário de Educação de Roraima, Adjalmo Moreira Abade. No encontro, Davi pediu mais agilidade no processo de reconhecimento das escolas yanomami que foi solicitado aos órgãos governamentais em 2001 (ver Boletim CCPY 36).

Apesar das vitórias conseguidas pelos Yanomami, como a recente contratação de 16 professores concursados (ver Boletins CCPY 61 e 64), não tem sido respondida a contento a questão do reconhecimento do curso de formação para o magistério indígena yanomami e das escolas que já funcionam há anos em suas comunidades. O Secretário garantiu, porém, que o decreto já está pronto e será assinado em breve. Davi aproveitou a ocasião e convidou o Secretário para uma visita às escolas yanomami, de modo a observar diretamente a realidade dos trabalhos educacionais em andamento. > subir


Boletim Pró-Yanomami Nº 69 - Fechamento: 22/09/2005
Coordenação Editorial: Alcida Rita Ramos, Bruce Albert, Jô Cardoso de Oliveira
Redação: Luis Fernando Pereira


 

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