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Curso para formação de professores yanomami ajuda a conciliar teoria e prática

Yanomami do Amazonas participam de novo curso de formação de professores

Curso para formação de professores yanomami ajuda a conciliar teoria e prática

Terminou no dia 11 de dezembro de 2005 o sexto curso de formação para o magistério dos professores yanomami promovida pela CCPY. Os trabalhos, que totalizaram 240 horas de aula, foram norteados pelo tema Saúde, e compreenderam as disciplinas de Pedagogia, Antropologia, Ciências Naturais, Direitos Indígenas, Artes e Pesquisa Etnográfica. Além dos 30 professores yanomami, oriundos das regiões de Auaris, Alto Catrimani, Demini, Homoxi, Kayanau, Papiu, Parawau e Toototobi, lideranças dessas regiões também estiveram presentes e participaram ativamente de alguns momentos do curso.

Houve alterações na programação do curso devido ao envolvimento dos professores nas manifestações contra a deterioração do sistema de saúde indígena que ocorreram na sede da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) em Boa Vista, Roraima, quando foram chamados a atuar pelos yanomami que participavam de reunião do Conselho Distrital (ver Comunicado Pró-Yanomami de 24.11.05 e Boletins Pró-Yanomami 72 e 73). Entretanto, isso não chegou a prejudicar o andamento do curso, graças ao extraordinário empenho e interesse demonstrados pelos professores yanomami, que transferiram para o período noturno as atividades previstas. “Manter o curso e as manifestações na Funasa exigiu de todos os professores e de toda a equipe de educação um grande empenho e muita dedicação para manter-se em atividade mais de 12 horas diárias”, declarou Lídia Montanha de Castro, coordenadora do Programa de Educação Intercultural (PEI) da CCPY.

A conjunção de teoria e atividades práticas relacionadas à problemática da saúde foi um grande ganho para os participantes do curso, segundo o professor Dário Vitório Yanomami, também tesoureiro da Hutukara Associação Yanomami: “No curso e na luta, o que ficou ainda mais claro foi sobre os direitos indígenas no Brasil. Nós já sabíamos, mas agora ficou mais claro que o atendimento da saúde não é só um favor que os brancos fazem para a gente. É obrigação da Funasa, do Governo. O dinheiro não é só do Governo, é do povo brasileiro, por isso todos nós falamos. Nós não pedimos à toa, é nosso direito”.

Dário Vitório afastou a idéia de incentivos externos à manifestação: “Nenhum branco faz manipulação da gente, não. É nosso direito claro, por isso fizemos manifestação. Não fizemos à toa, é nosso direito para melhorar nossa saúde, nossa vida. Se a gente não faz isso, o governo brasileiro não vai entender, não sabe escutar. Por isso, nós fechamos o departamento da Funasa”. A ação dos professores e conselheiros indígenas, apesar de coincidir com a abordagem do tema saúde no curso, foi apenas uma entre várias outras manifestações de descontentamento que ocorrem entre os Yanomami desde 2004 (ver Boletins Pró-Yanomami 52, 53, 54, 60, 70, 72 e 73): “Não é só agora que ficamos bravos com o atendimento à saúde, desde que a Funasa voltou e tomou conta, nós falamos, ficamos chateados porque a gente já sabia. A Funasa não tinha trabalhado bem antes, morria muita gente, apesar de ter muito dinheiro. A gente sabia que ia acontecer de novo”.

Ciente dessa situação, Joênia Batista Carvalho, Wapixana, primeira advogada indígena do país, agraciada com o Prêmio Reebook 2004 – Em Defesa dos Direitos Humanos, aproveitou a reunião do Conselho Distrital Yanomami para conduzir com os professores, durante o módulo de Direitos Indígenas, um estudo sobre a assistência a saúde indígena no Brasil. Paralelamente, descreveu brevemente o panorama histórico sobre o desenvolvimento do Estatuto do Índio e a necessidade de sua reformulação. Também participou desse módulo o advogado Ubiratan Souza Maia, do Conselho Indígena de Roraima (CIR), dedicando-se aos conceitos de Estado Brasileiro, Povo, Território, Governo, Cidadão, Direito e Dever.

O módulo de antropologia, disciplina oferecida pela primeira vez na formação dos professores yanomami com a consultoria dos antropólogos Gustavo Menezes, da Fundação Nacional do Índio (Funai) e doutorando da Universidade de Brasília (UnB), e Silvia Guimarães, recém doutora também pela UnB, foi apontado por Dário Vitório como o mais interessante: “O curso de antropologia foi o mais importante para mim, porque quando a gente viajar para outros lugares, a gente pode entender os costumes deles, como é a cultura dos outros. Quero saber outros costumes e, quando eu voltar para a minha comunidade, poderei falar sobre isso. Eu aprendi na antropologia, eu vou pensar diferente, não é como os brancos pensam. Os brancos falam que a gente é selvagem, que índio é animal. Eles falam também de outros povos, eu não quero pensar assim”.

Na semana dedicada à antropologia, foram estudadas as repercussões da chegada dos europeus às Américas no pensamento ocidental, ressaltando-se os argumentos criados para explicar e classificar a diversidade cultural dos povos autóctones. O trabalho teórico foi associado a um exercício inicial de pesquisa etnográfica, visando demonstrar aos professores formas de utilização dos conhecimentos antropológicos para uma melhor compreensão da realidade dos não yanomami.

Durante o módulo de Pedagogia, ministrado por Lídia Montanha de Castro e pela equipe do PEI, foram discutidos e sistematizados os conteúdos referentes à construção dos Projetos Político-Pedagógicos (PPPs) das escolas yanomami, com base em dados obtidos após exaustivos trabalhos e reuniões junto às comunidades atendidas. Os professores yanomami também estudaram as bases legais que garantem educação diferenciada e de qualidade aos povos indígenas.

Na semana dedicada às Ciências Naturais, o foco recaiu sobre a diversidade de concepções de saúde, doença e corpo, com visitas ao laboratório de anatomia do Centro Federal de Educação Tecnológica de Roraima. Com a assessoria das professoras Eliane Bastos e Arlene de Oliveira, foi compilada, para posterior publicação, uma série de materiais, produzidos especialmente para o módulo, e com textos nas cinco línguas representadas no curso.

Os trabalhos foram finalizados com uma exposição montada pelos professores, na qual apresentaram os materiais produzidos durante o curso, tais como os PPPs e a versão inicial do livro de Ciências Naturais. A exposição, fruto de atividades complementares sobre arte e educação dirigidas por Rosângela Duarte, professora de Arte e Educação da Universidade Federal de Roraima (UFRR) e coordenadora do programa Arte BR, foi realizada no Museu Integrado de Roraima e contou com a participação de representantes da Secretaria Estadual de Educação e das organizações indígenas Organização das Mulheres Indígenas de Roraima (OMIR) e Organização dos Professores Indígenas de Roraima (OPIR). > subir


Yanomami do Amazonas participam de novo curso de formação de professores

Professores yanomami das regiões do rio Marauiá e Ajuricaba participaram do VI curso de formação para o magistério indígena promovido pela organização Serviço e Cooperação com o Povo Yanomami (Secoya) entre os dias 14 de novembro e 17 de dezembro, em um sítio na cidade de Rio Preto da Eva, nas proximidades de Manaus.

O curso contou com módulos de Geografia, História, Matemática, Direitos Indígenas, Educação em Saúde e Pedagogia. Neste ano, o consultor para o módulo de História foi Marcos Wesley de Oliveira, sócio da CCPY e especialista em educação indígena, abordando o tema “A Ocupação da Amazônia”. A consultoria dá continuidade à parceria entre ambas as instituições, o que permite o aproveitamento de metodologias e materiais desenvolvidos no Programa de Educação Intercultural (PEI) e a participação direta de assessores da CCPY (ver Boletim Pró-Yanomami 58. Como atividades complementares ao módulo de História, que ocorreu de 21 a 26 de novembro, os professores yanomami visitaram o Palácio do Rio Negro, construído em 1903 por um barão da borracha, e o Museu do Homem Amazônico, ambos em Manaus.> subir


:: A CCPY deseja a todos um feliz ano novo ::


Boletim Pró-Yanomami Nº 74 - Fechamento: 28/12/2005
Coordenação Editorial: Alcida Rita Ramos, Bruce Albert, Jô Cardoso de Oliveira
Redação: Luis Fernando Pereira


 

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