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Casos
de malária dos primeiros cinco meses de 2006 já ultrapassam
o total de 2005 na Terra Indígena Yanomami
Entre
os meses de janeiro e maio de 2006 foram notificados 1.906 casos
de malária entre 10.159 Yanomami atendidos pelas instituições
conveniadas com a Fundação Nacional de Saúde
(Funasa) nos estados do Amazonas e Roraima. Ou seja, a malária
já atingiu em 5 meses cerca de 12% da população
da Terra Indígena Yanomami (15.686 pessoas, segundo censo
de 2005). Este números evidenciam uma crescente degradação
da situação sanitária yanomami, bem como
a inoperância da reforma da saúde indígena
implementada pelo atual governo em meados de 2004 no Distrito
Sanitário Yanomami: em 2003 ocorreram 418 casos de malária
em todo o distrito e 622 casos em 2004.
Os dados são particularmente alarmantes, já que
apenas nos primeiros cinco meses deste ano o número de
ocorrências ultrapassou a soma do ano de 2005, quando foram
registrados 1.645 casos (Ver Boletim
75).
Não se trata, no entanto, de situação inesperada.
Diversos foram os apelos e advertências, tanto por parte
dos próprios Yanomami quanto de representantes de organizações
envolvidas em trabalhos com populações indígenas
(Ver Boletins 67,
68,
71,
72,
73,
78
e notícias abaixo). Já
em fevereiro de 2005, durante a primeira reunião do Conselho
Distrital Yanomami após a retomada da gestão direta
do atendimento na área yanomami pela Funasa, os Yanomami
expressaram sua preocupação quanto à recrudescência
das doenças em conseqüência do desmonte da estrutura
de assistência sanitária nas suas terras (Ver
Boletim 60).
A maior quantidade de casos de malária de 2006 ocorreu
entre os Yanomami do rio Marauiá, próximo ao município
de Santa Isabel do Rio Negro, no estado do Amazonas: foram 529
ocorrências entre os 1.393 moradores da região. Isso
se deve ao fato que a ONG conveniada Serviço de Cooperação
com o Povo Yanomami (Secoya), responsável pelo atendimento
no Marauiá, foi obrigada a interromper completamente suas
atividades durante quatro meses devido aos atrasos no repasse
de verbas pela Funasa (Ver Boletim 78
e notícias abaixo).
Muito
antes disso, porém, a Secoya já alertou para a progressiva
degeneração do modelo de gestão da Funasa,
altamente burocrático e centralizado (Ver
Boletim 68).
Em regiões onde é verificada a constante uma crescente
presença de garimpeiros a malária também
voltou a crescer, como no Parafuri onde, entre 355 Yanomami 82
foram acometidos pela doença e no Paapiú Novo (Kayanau)
onde quase metade da população foi atingida pela
doença (42 casos entre 102 pessoas).
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Ministério
Público Federal questiona gestão da Funasa na saúde
Yanomami
O
escritório do Ministério Público Federal
(MPF) em Manaus, Amazonas, solicitou à Fundação
Nacional de Saúde (Funasa) esclarecimentos sobre a suspensão
no repasse de verbas à organização conveniada
Serviço de Cooperação com o Povo Yanomami
(Secoya), que acarretou na paralisação total dos
serviços de saúde da entidade durante quatro meses
e, conseqüentemente, na morte de três Yanomami por
falta de assistência (Ver Boletim
78).
O MPF enfatiza o estranhamento frente às sucessivas crises
que levaram à completa desestabilização do
sistema de saúde na Terra Indígena Yanomami (Ver
Boletins 60,
67,
68,
72,
73,
75,
77
e 78),
entre decisões arbitrárias, declarações
nebulosas e uma política de repasse de verbas estranhamente
diferenciada.
Em ofício de 2 de junho o MPF interroga a Funasa sobre
o fato de ter anunciado a liberação de recursos
parciais no valor de R$ 337.779,11 para a entidade (site da Funasa,
em 29 de maio), apesar de alegar algumas pendências na sua
prestação de contas. Para o MPF tal informação
apontaria para duas opções, ambas injustificáveis:
“a) a retenção da totalidade da parcela convenial
durante quatro meses foi arbitrária e poderia ter sido
efetuada unicamente sob o montante que continua retido;
ou
b) a Funasa deliberou efetuar o pagamento parcial da parcela contrariando
as normas administrativas de convênios com órgãos
federais que exigem a aprovação da prestação
de contas da parcela anterior à última liberada”.
Deve-se acrescentar aqui que, ao contrario do caso anterior, mas
sempre desrespeitando suas próprias regras gerenciais,
a Funasa não somente ignorou irregularidades notórias
nas prestações de conta de outra conveniada –
a Fundação Universidade de Brasília (FUB)
-, mas também não hesitou em ampliar o seu convênio
por mais um ano, em setembro de 2005, aumentando seu valor de
R$ 10,9 milhões iniciais para R$ 25 milhões.
O caso do convênio desta entidade chama particularmente
a atenção uma vez que estas notórias anormalidades
- entre as quais pagamento de pessoas alheias ao quadro funcional
e despesas duplicadas – chegaram ao ponto de motivar uma
investigação do Tribunal de Contas da União
(TCU) (Ver
Yanomami na Imprensa – 19/02/2006 - Fundação
Nacional de Saúde ignora normas sobre aplicação
de recursos e ainda amplia convênio irregular com entidade
que não prestou conta de dinheiro público).
Tais irregularidades foram também apontadas em dezembro
de 2005 pelo MPF em relação à possibilidade
de se firmar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) permitindo
a liberação de novos recursos financeiros para a
FUB:
“Consoante posição Siafi de 6/12/05, há
um saldo a liberar de R$ 9.680.225,92. O valor da 5ª parcela,
de R$ 8.796.798,45, foi pago em dois repasses. O repasse de nº
05, no valor de R$ 2.400.000,00, em 16/9/05, e o de nº 06,
R$ 3.000.000,00, pago em 1º/12/05. O restante do valor, de
R$ 3.396.798,45, não há previsão de empenho
em virtude da indisponibilidade orçamentária. Destaco
o valor sobrestado em R$ 6.772.936,39.
Desse
feito, sugiro cautela quanto a possibilidade de se firmar um TAC,
pois é um convênio com inúmeras irregularidades
as quais foram encaminhadas ao TCU para análise, e os registros
da Funasa foram pactuados em um extenso relatório diante
da resposta da FUB”.
Estranhamente, mesmo com a crise crônica do Distrito Sanitário
Yanomami (DSY) veiculada na imprensa desde o fim de 2004 e a recente
paralisação do trabalho dos funcionários
da FUB na área indígena (Ver
Boletim 78),
a Funasa, em nota da sua assessoria de imprensa de 29/05/2006,
negou recentemente qualquer atraso na liberação
de verbas para o DSY:
“Não há atraso no repasse de recursos referentes
ao convênio da Funasa com a Fundação Universidade
de Brasília (FUB) para atendimento da população
Yanomami”.
Ainda, segundo essa mesma nota, apesar da indisponibilidade orçamentária
mencionada pelo MPF, os problemas financeiros do DSY seriam só
decorrentes de falhas da FUB:
“É importante salientar que as deficiências
na prestação de contas (exigência legal para
utilização de recursos públicos) da FUB impedem
a liberação dos recursos na freqüência
desejada”. >
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Yanomami de Parawa u voltam a denunciar falta de atendimento
Os
Yanomami do pólo do Parawa u, Amazonas, voltam a denunciar
a precariedade das condições de atendimento de
saúde, menos de um mês após enviarem documento
onde apontavam as principais razões para o aumento constante
da malária na sua região (Ver
Boletim 78).
Na recente carta, professor, agente indígena de saúde
(AIS) e lideranças das comunidades do Uxiximapiu e Etewexipi
pedem explicações sobre a ausência de controle
sobre o aumento das doenças. Segundo os Yanomami, o atendimento
é também prejudicado pela distância da comunidade
do Etewexipi do posto de saúde (cerca de 6 horas de caminhada)
e a ausência de sistema de radiofonia na área.
Etewexipi, 04 de maio de 2006.
Palavras sobre o surgimento das doenças nesta região.
As doenças se espalharam pelas nossas casas coletivas,
por isso enviamos este documento.
Na nossa casa oito de nós adoeceram gravemente, o que
nos entristece. Como vocês da Funasa pensam sobre isso?
Na minha aldeia a quantidade de mosquitos só cresceu,
por isso vocês devem enviar nebulização
(agentes de endemia).
Sim, o que vocês brancos pensam sobre nós? Não
há rádios aqui, o que nos deixa entristecidos.
O Posto Yano é muito distante de nossa residência.
Há apenas um AIS mas sem rádio ficamos preocupados.
(....) Quando adoecemos nós passamos por muitas dificuldades,
precisamos, portanto, de um rádio. (...)
Já que estamos realmente decepcionados, perguntamos a
vocês, da Funasa, o que você pensam sobre tudo isso?
O dinheiro dos funcionários de saúde da FUB (Fubra)
ainda não apareceu. Quando eles forem para Boa Vista,
eles não voltaram para a nossa floresta. Na minha casa,
agora, só há um Agente Indígena de Saúde
que está trabalhando sozinho, o que não é
bom. (...)Platão
professor Ixarori Yanomami, Esmeraldo AIS Yanomami, Cássio
Patamotima conselheiro, Lito Yanomami, Ronaldo Yanomami, Susi
suwë Yanomami, Ivanzinho Yanomami. >
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Boletim Pró-Yanomami Nº 79 - Fechamento: 29/06/2006
Coordenação Editorial: Alcida Rita Ramos, Bruce
Albert
Redação: Luis Fernando Pereira
Tradução: Luis Fernando Pereira,
jornalista CCPY
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